sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A monarquia fake, pseudo parlamentarista do Brasil

João Wagner Galuzio
Escrevedor e Cantador

Em tempos de debate sobre reforma política, vez por outra surgem propostas de toda ordem. Algumas surgem, outras ressurgem e há aquelas que são regurgitadas tamanho histrionismo e anacronismo.

Recentemente durante procedimentos legislativos acerca da reforma política (sic) que estava em curso no Brasil, discutiu-se muito para mudar pouco, para pior. A classe política, mostrou-se desclassificada para interpretar e representar a vox populi, expressa em manifestações que se multiplicam desde 2013. Mudou-se muito para ficar o mesmo, clichê do poder hegemônico estabelecido. Enquanto uns discutiam a oportunidade do voto distrital, houve que encontrasse licença para deixar o sanatório e apresentar a monarquia como alternativa para o país. 

Imagino que tamanhas estultices sejam resultado, em parte, do presidencialismo esquizofrênico que frouxamente mantemos. Esquizofrênico porque, penso eu, podemos estar mais próximos do parlamentarismo do que do presidencialismo e, frouxo considerando que as regras do jogo são mudadas ao sabor da conveniência da facção em evidência. Democracias maduras, alcançam esta condição exatamente porque enfrentam os conflitos de interesse, as crises e surtos da adolescência civilizatória para construir o respeito aos interesses difusos e valorização da diversidade das vontades como alicerces da sociedade.

A construção da consciência nacional pode, e provavelmente assim fará, consumir muitas gerações, várias décadas de erros e acertos para alcançar a maioridade cidadã. O instituto da reeleição, por exemplo, não alcançou a puberdade em termos históricos. Em vez de aperfeiçoarmos o mecanismo de recondução do executivo para estimular o círculo virtuoso das boas administrações, não, fez-se terra arrasada sobre os alicerces que agora apenas brotavam feito sementes do solo ainda movediço das constantes mudanças econômicas e sociais entrementes. Em vez de orientarmos as mudanças em função das transformações inerentes à tenra idade, massacramos e mascaramos o desenvolvimento encharcados em nossos hormônios ideológicos e operamos plásticas horrendas em leis que estavam apenas precisando reconhecerem-se púberes e frágeis.

O nacionalismo, o cabresto burro e turrão, que tampa nossa visão à esquerda e à direita, querendo olhar para a frente só nos faz empacar para, em seguida, silentes obedecermos a voz sonsa e rouca do populismo falso generoso do político paternalista, que mantém a sua família com uma bolsa de cenouras guias e michas e obediente ao aboio súcio. Populista e bom peão, o populista usa sua verve para ditar o comportamento da indigente manada inteligente em redes sociais, seus currais eleitorais. Ao determinar o padrão de consciência (sic) o bom peão impõe sua rainha aos seus companheiros, gostem eles ou não e a todos terceiros, os  brasileiros. 

Mas a cabocla não é boa de montaria, aperta os arreios, estica as rédeas e desce o chicote sobre o lombo do pobre semovente. Resultado? Depois de fazer colapsar o arcabouço da responsabilidade fiscal em poucos meses e deixar cair as cortinas dessa tragédia grega destes trópicos, me parece claro que de fato a monarquia prevaleceu enquanto todos aplaudiam um bufão. Descobrimo-nos num regime monstrengo pseudo parlamentarista tentando salvar uma monarca fake de palavras espúrias querendo salvar o esbulho. 

Expert sem esperteza, a especialista repentista claudica, improvisa e gagueja frases desconexas enquanto o [povo] montado esperneia na arena das ruas e comunidades sem blasé, ou das gruas e até as beldades em suas varandas gourmet. Desorientada a manada mansa desabafa na praça, chamada Brasil. Houvesse silêncio talvez não estivéssemos tão atordoados e quem sabe pudéssemos permanecer atentos, como diria o poeta. Mas não, o silêncio é o espaço da reflexão ou da decepção. A prostração de perceber que, ilhada e mal amada, a rainha remanesce encastelada saudando tubérculos enquanto não estabelece metas, se não as deficitárias. 

Rainha de direito, se submete ao ministro, executivo de fato, o ambulante. Aloprado coringa, migrante que perambula entre pastas diversas pretendendo saber das coisas das tecnologias, da educação e da casa cidadã. Tudo, enquanto não se impõe como economista-chefe nacional. Como a nobre matriarca britânica, a nossa emoldura um personagem vazio, sem perfil. Troca peruca, anda de bicicleta, usa semióticas fardas sazonais, conforme a audiência. Veste tons neutros e cores pastéis para mostrar temperança em diversos ambientes diversos [assim mesmo] ou sanguíneas blusas hemorrágicas nos únicos ambientes exclusivos e controlados para bradar o seu nanico idealismo messiânico. 

Desde atrás de seu imenso bigode meio latino, meio lusitano, o nosso "primeiro ministro chefe" reclamante exerce o poder de fato trazendo consigo a força do movimento das hostes de seu exército social. Enquanto a expropriação do estado rendeu lucros e fundos, imperou a obediência.  Veremos agora, diante da iminência desta tempestade perfeita da corrupção santa e ideal que inventaram, novos arranjos e dissensões na esplanada convertida em politburo, quem vai "sumir" na foto. Se pretenderem saber as cabeças que restarão, talvez as encontrem perfiladas feito papagaios de piratas nas 'selfies' do bigodudo enquanto o barbudo se desvanece em photoshops pasadenos. O que talvez não tivessem entendido ainda os líderes bobolivarianos tupiniquins é que se nestas pradarias, perto ou abaixo do equador, poderiam gritar slogans miseráveis aos seus crentes, talvez sinceros bolivarianos que, antes de cinco anos deixarão a falácia besteirol, impedidos de sair do Brasil pela eficiente Interpol.