quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Jornalista, analista ou alarmista?

 

João Wagner Galuzio

Recebi hoje, 17dez2020, por WhatsApp, um extrato do vídeo do jornalista Alexandre Garcia onde ele destaca, com entusiasmo, o depoimento no Comitê de Segurança Interna e Assuntos Governamentais do Senado norte-americano, em 08 de dezembro pp, do médico pneumologista e intensivista, o Dr. Pierre  Kory, apresentando o remédio Ivermectina, para tratamento de vermes e parasitas, como a solução definitiva para se enfrentar a COVID-19.

Vou fazer minhas considerações em duas partes. Primeiro entendendo o vídeo do popular jornalista brasileiro e, na segunda parte, vou dizer o que penso do evento naquele comitê do senado estadunidense. Nos dois casos vejo muito deslumbre, muita exaltação e pouca informação.

Do senhor jornalista, Alexandre Garcia

Admito que, por anos, ouvi com cuidado e atenção as crônicas deste, muito bem articulado, jornalista em suas intervenções na mídia. No entanto, parece ter se libertado de um cabresto editorial quando saiu das baias da Rede Globo onde, provavelmente, era ‘orientado’ ou pautado para se manter subordinado a uma determinada cosmética. Agora, sem freios e arremedos, parece ter encontrado a sua verdadeira identidade de porta-voz milico para exacerbar sua liberdade de expressão tanto em seu canal virtual como, por último, na CNN Brasil.

Eloquente, ele parece um analista, mas não passa de um alarmista. Em seus vídeos ardilosos esbanja falácias em profusão. Aliás, este vídeo em particular mostra, didaticamente, como elaborar uma falácia. Combina algumas informações reais e objetivas, mas acessórias, com ilações frágeis e subjetivas sobre elementos críticos e relevantes. Vou tentar apresentar algumas em umas poucas 380 páginas, #SQN, apenas um desabafo para dizer quanto isto me afeta e me irrita profundamente, gente loquaz pouco tenaz.

O vídeo alexandrino. Começa usando de um estilo informal, quase simpático para angariar a docilidade de quem ouve, parece que estamos numa mesa de bar, trocando ideias inocentemente. Para parecer ‘sério e responsável’ garante que checou e, portanto, é verdade ou, ao modo italiano (ainda mais informal): “é vero”. Isto está quase adequado em se considerando que houve mesmo o depoimento no dia 08 de dezembro de 2020 (não dia 10), e é correto que foi mesmo o médico (Pierre Kory) e foi mesmo num comitê do Senado americano. Diz ainda, para complementar as informações reais e objetivas (ingredientes para tudo o mais para frente parecer verdadeiro, armadilha comum nas falácias), que o médico é especialista em UTI e “tá cheio de títulos” e mais de 30 estudos (uau).

UAU, então não se atrevam a contestar um médico intensivista cheio de títulos e, para encerrar sua estratégia de conquistar o coração e a simpatia daqueles que o assistem, demonstra a grande empatia do médico com os negros, latinos e idosos, entre os que mais morrem de COVID19, sem mencionar, em absoluto, que estes são os vulneráveis que, por não terem recursos, não têm acesso ao extremamente caro sistema de saúde americano. Muitos deles se resignam a morrer em casa, para não exaurir o patrimônio da família em dívidas milionárias com hospitais.

Para não me estender sobre este analista alarmista, vou direto ao seu último ingrediente da falácia: “Ivermectina está envolvida (sic) no Prêmio Nobel de Medicina de 2015.” Não sei o que ele pretende dizendo que a droga esta ‘envolvida’ naquele prêmio, pois é objetivamente o desenvolvimento dessa substância que mereceu o prêmio. Talvez sua claudicância esteja ‘envolvida’ em seu constrangimento de dizer que um dos três cientistas laureados, na ocasião, foi a cientista chinesa, senhora Youyou Tu. Já pensou ter que admitir que até Ivermectina tem componente chinês? Para os conspiracionistas uma tragédia.

Do médico e sua panaceia.

Vou pegar bastante mais leve com o Dr. Pierre Kory, pois quero lhe dar o benefício da dúvida, levando em conta o provável e real interesse no desenvolvimento de uma solução. Então vou me ater ao que o colunista alarmista não checou ou nem considerou. Ficou se estendendo em dizer que toma Ivermectina desde junho (ou sem receita, ou com receita off label) e que confessa ter tido contato com inúmeros infectados. Quero demais estar errado e não desejo que o senhor Eggers Garcia resulte infectado.

Distraído em sua automedicação, Garcia talvez tenha deixado de observar que o médico compareceu a um comitê sobre segurança nacional e não a qualquer um dos outros comitês como o de Ciência ou o Comitê de Saúde, por que será? Com a hegemonia trumpista negacionista, todos os comitês do senado americano estão sob presidência de senadores republicanos, uns mais ou menos alinhados ao criacionista (pato manco) Donald Trump, o senador Ron Johnson, presidente deste comitê entre os mais fanáticos.

Sempre distraído em sua catarse bolsonarista, talvez tenha se esquecido de ‘checar’ se “é vero” o estudo argentino não apresentado muito menos identificado envolvendo 800 pessoas. Posso estar muito enganado, então vou dizer apenas surpreendente que adotassem um método para pesquisa de novos remédios em um remédio já aprovado e fartamente documentado, acho pouco crível, embora não impossível.

Também ou não checou ou não deu importância ao relato do médico dizendo que em Uganda já é usado em larga escala. UAU de novo, caramba o médico está no centro dos maiores e mais ricos institutos de pesquisa farmacêutica do mundo, mas precisa recorrer a um, (vai tá bom vou chamar de) ‘estudo’ argentino não identificado e às boas práticas angolanas. Hein? Com bastante respeito aos profissionais médicos destes dois países, mas... é sério?

Sem medo de ser contestado, entendendo que já convenceu a todos que a sua palavra é “a própria expressão da verdade” o alexandrino youtuber nem mais mede a modéstia: “A conspiração NIH/FDA/CDC não reconhece décadas (ou século) de estudos com uma ‘montanha de provas’. Bão, para eu não incorrer no mesmo erro de ficar encantado com minha verborragia vou compartilhar alguns links que ajudarão você a formar sua própria opinião.

 

Primeiro, o link do jornalista Alexandre Garcia.

Entre outras falações, como porta-voz informal do atual governo federal, veja o conteúdo aqui observado a partir de 6’25” (seis minutos e vinte e cinco segundos) no link:  https://youtu.be/jvgyu5XwiHs

 

Segundo, um link do canal de youtube do Senador Republicano Ron Johnson, presidente do Comitê de Assuntos de Segurança.

https://youtu.be/YgOAaLmoa68

Terceiro, um link de um site especializado em fazer checagem de fatos e fake news. Está em inglês, mas nada que um tradutor virtual não resolva.

https://www.berkshireeagle.com/factcheck/no-evidence-ivermectin-is-a-miracle-drug-against-covid-19/article_fa981028-3c9c-11eb-83f5-e75cbf969494.html


Considerações finais

Mais uma vez, como tudo é bastante recente, ficaria muito feliz se o futuro demonstrar que estou errado e que a Ivermectina possa se revelar, efetivamente, como uma ferramenta poderosa de prevenção e cura da COVID19. Vou ressaltar, ratificar e recalcitrar a minha sugestão de receberem com alguma ou bastante prevenção quaisquer informações sobre a pandemia, se elaboradas por enfermeiros e outros médicos que não sejam: infectologistas, virologistas, epidemiologistas, sanitaristas ou médicos de saúde pública e pesquisadores bioquímicos, estes são os caras. Outros profissionais de saúde podem ser bem intencionados mas, eu não sei vocês, eu não procuro um infectologista para tratar de uma contusão de futebol, como não procuro um ortopedista para tratar de uma virose.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Vacinação, sem vacilação já!

joao.galuzio@gmail.com

Quando vejo pessoas ingênuas dizendo para não se testar a vacina com profissionais de saúde e sim com políticos, pois eles "não fariam falta" ou, para se testar com presos,  eu fico consternado por perceber que muitas pessoas estão julgando sem entender as fases do processo no primeiro caso e mais desumanidade no segundo caso.


Concordo que muitos de nossos políticos têm caráter e comportamento desprezíveis, especialmente aqueles que ofendem a comunidade científica e patrocinam a ignorância, negando os fatos mais contundentes. 

MAS, quanto à vacina, nós educadores que entendemos fundamentos dos métodos da ciência, precisamos orientar quem precisa ser vacinado com urgência.

Não há essa hipótese de "se não der certo" essa questão foi enfrentada na fase 1, que trata da SEGURANÇA (entre abril e maio 2020). 

Talvez seja bacana mostrarmos às pessoas a importância de se vacinarem entendendo o que nossos colegas cientistas  como nós professores estão fazendo. Sim todo professor é um cientista!

Fase 1 - Teste de segurança com um número extremamente reduzido de voluntários (10 a 50, no máximo)... quando se verifica se envolve algum risco severo; 

Fase 2 - Eficiência da vacina, já se sabe que a vacina é segura, vai se observar se ela gera imunidade. Para isso é necessário e possível um número maior de voluntários, em torno de 1000 ou um pouco mais (pois já se sabe que a vacina é segura desde a primeira fase); 

Fase 3 - Pretende-se verificar a EFICÁCIA da vacina, ou seja, em qual porcentual de voluntários a imunidade é efetiva (pois já se sabe que a vacina é segura desde a primeira fase);

Cada organismo, cada ser humano é  único, NENHUMA vacina tem 100% de eficácia. 

O que o relatório, que será divulgado neste início de semana dez/2020 (relativamente à Coronavac) dirá é: entre 50 mil ou mais voluntários, a vacina teve eficiência e eficácia em X porcento.

Observe-se por último que muitas vacinas são consideradas satisfatórias com eficácia em torno de 70%... 

A julgar pela fase 2 da Coronavac,  (pesquisa envolvendo dezenas de cientistas de altíssimo nível internacional do Instituto Butantan).. não é  improvável que a eficácia seja superior a 90%...

Considerando as dezenas de bilhões de dólares que estão sendo investidos em cerca de 200 vacinas anti-covid no mundo, podemos entender como nunca antes na história da humanidade houve uma resposta tão rápida e "emergencial" ... 

Então é natural que outras novas vacinas diferentes surgirão com mais ou menos eficácia, sendo inclusive incluídas em programas como a da vacinação contra gripe. 

Como professores e formadores de novos cientistas júniores, penso que esta devesse ser a mensagem a ser compartilhada.

Vacinação sem vacilação, já!