João Wagner Galuzio
Escrevedor e Cantador
Preciso ressalvar, por princípio, que não li e sequer
tive acesso ao livro que pretende biografar o político José Dirceu de Oliveira e Silva,
escrito por Otávio Cabral. Destaco ainda que a resenha elaborada por Mário
Sérgio Conti, a que tive oportunidade de ler, a encontrei disponível num blog, o ComTextoLivre (contextolivre.blogspot.com.br)
mantido por um “publisher” que não informa seu sobrenome, apresenta-se apenas como José Carlos.
Esclareço este último detalhe apenas a título de registro e de vênia, jamais
como omissão, erro ou julgamento, considerando que eu mesmo não sou eu, mas um
avatar. Apenas cândido e "poliano".
Penso que, assim como eu, professor que sou, o jornalista
também é um formador de opinião. Entendo, no entanto, que nosso ofício não deve impor
opiniões, mas apenas instigar, apoiar e orientar o seu desenvolvimento nas mentes idealistas e muitas vezes inocentes, de nossos jovens. Dito isso gostaria de compartilhar
algumas impressões acerca das crônicas, das notícias e das informações que veiculam
em blogs, livros, jornais e revistas
virtuais ou não, neste caso em particular, sobre a biografia do controvertido político brasileiro.
Se nos jornais e revistas, que são impressos regularmente, já era comum um
espaço destacado para que os leitores pudessem manifestar suas opiniões, no ambiente
virtual foram ampliados os canais de manifestação, com bastante prejuízo da qualidade
dos comentários. Por vezes enviesados, tendenciosos e muitas vezes fanáticos e, ou, anônimos e, quando em vez, alguns comentários são produto de comentaristas 'engajados', eufemismo cínico para aqueles que
são contratados para fazer propaganda de seus 'ídolos' patrocinadores.
Estas verdadeiras torcidas, com suas mentes uniformizadas, apaixonadas por seus ídolos,
contaminam e são contaminadas por profissionais e professores que driblam a
lógica, embaralham o conteúdo e, draconianos, vociferam fofocas com sarcasmo
elaborado. Elaborado, para parecer crível e real.
Tem sido uma experiência especialmente gratificante
orientar a pesquisa de meus alunos, cientistas juniores e encontrei neste episódio
envolvendo tal biografia e sua resenha mais ácida, uma oportunidade para
demonstrar a importância da metodologia científica como ferramenta de
desenvolvimento do nosso conhecimento e formação da opinião razoável, responsável e fundamentada.
Razoável ainda que refutável, já que opiniões são apenas extratos sinceros
de perspectivas parciais, conquanto que não sabemos tudo.
Se de um lado o resenhista se revela, com bastante
propriedade, um exímio investigador das minúcias e da acurácia de informações
inócuas e deslocadas constantes na biografia objeto do livro, por outro lado o faz com esmero
exagerado listando, salvo engano em meu inventário, 37 prováveis incongruências.
Embora sejam muitos detalhes, me parecem 'erros de forma' quase risíveis que, em sua
maior parte não afetam gravemente o conteúdo, mas exclusivamente o estilo, lamentável é verdade.
Agora, se não são apropriados esses detalhes, discutir se determinado evento, a 'rede nacional' (integração entre repetidoras de sinal de uma determinada frequência de canal de televisão) uma
informação secundária e acessória, ocorreu em 1968 ou 1969, é igualmente bobo, para ser gentil com o resenhista; Destacar que o nome
de um determinado cursinho era grafado com um ou dois 'eles' ('l' ou 'll'), ou que
o nome de um personagem era com 's' ou com 'z'; Esclarecer que as 'arcadas' de
um estabelecimento escolar não tem este predicado, arquitetonicamente falando ou; Importar-se com o número de andares de um edifício, se eram quatro ou cinco, são
exemplos de um criticismo exacerbado sobre a forma para desconstruir o conteúdo, os argumentos do autor. Trata-se de típica estratégia para confundir
o leitor misturando questões comezinhas com outras poucas relevantes. O próprio resenhista, fã (?) do político, por duas vezes admite que sejam “erros tolos,
sem dúvida” diz uma vez e, mais tarde se repete, atestando que são “erros
menores”.
Em benefício do resenhista, preciso registrar que
entendo (e concordo) que tenha razão ao contestar o estilo satírico do autor da
biografia, que erra, ao meu ver, na forma e no conteúdo ao perder-se na
digressão acerca dos relacionamentos amorosos, dos adjetivos aplicados a
essas mulheres ou sobre aparência delas ou, ainda, na sucessão de opções
gastronômicas que parece mesmo próprio para um livro de receitas ou roteiro gourmet. Sua razão, senhor resenhista, se esvanece, no
entanto, ao ensaiar sem constrangimento, um elogio dissimulado ao idealismo partidário
do biografado e sua participação 'consagradora' (hein?), na fundação do partido.
É deplorável que, o autor da biografia
e sua equipe, não tenham se prestado ao mister de verificar e revisar, como que desprezando a metodologia, a pesquisa, a
origem e qualidade de suas fontes. Ainda que a maior parte de suas informações possam
ser corretas, plausíveis e críveis, ao descuidar de muitos detalhes autoriza
a resenha caustica e severa de seu detrator.
Não podem lhe proteger argumentos como 'não errei
por má-fé ou falta de trabalho' ou, 'o problema derivou de fontes de informações
erradas'. Do investigador científico, político, econômico ou social, exige-se mais
do que a isenção de intenção, a indispensável consciência de sua responsabilidade objetiva, frente à necessidade de se testar e se certificar da qualidade e confiabilidade
das fontes, oficiais ou não. Atribuir uma informação discutível a um 'mal-entendido', resultado de interpretação de uma entrevista envolvendo o protagonista e seu advogado
é, no mínimo, um erro muito grave de investigação.
Ambos, o autor e o resenhista, demonstram que são excelentes
articulistas e, embora muito competentes, parecem travar uma luta à parte, ou
envolvidos na fogueira das vaidades de seus currículos, ou para atender aos
interesses de seus patrocinadores. Aos que desejarem ler mais sobre o assunto
recomendo o livro, a resenha (abaixo link do texto na íntegra) e as reportagens
que apesar de inúmeras, repetem seus contendores preferidos.
Ratifico aos meus juniores a importância de, ao lerem notas, notícias e opiniões, se certificarem da qualidade dos argumentos dos autores e de suas fontes, utilizando-se da dúvida como método, assim cartesiano por princípio, para depois com alguma experiência alcançarem a pós-modernidade subjacente e implícita nas entrelinhas para tentar mitigar as falácias, firulas e fofocas que ululam por todo lado.
Ratifico aos meus juniores a importância de, ao lerem notas, notícias e opiniões, se certificarem da qualidade dos argumentos dos autores e de suas fontes, utilizando-se da dúvida como método, assim cartesiano por princípio, para depois com alguma experiência alcançarem a pós-modernidade subjacente e implícita nas entrelinhas para tentar mitigar as falácias, firulas e fofocas que ululam por todo lado.
LINKS
A resenha, disponível em: http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/08/chutes-para-todo-lado_6.html
Acesso em 20/08/2013.
Matéria do jornal “Folha de São Paulo” repercutindo
a resenha. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/08/1328999-erros-fazem-biografia-de-dirceu-virar-alvo-de-questionamentos.shtml
Acesso em 20/08/2013.
