terça-feira, 20 de agosto de 2013

Falácias, firulas e fofocas.

João Wagner Galuzio
Escrevedor e Cantador

Preciso ressalvar, por princípio, que não li e sequer tive acesso ao livro que pretende biografar o político José Dirceu de Oliveira e Silva, escrito por Otávio Cabral. Destaco ainda que a resenha elaborada por Mário Sérgio Conti, a que tive oportunidade de ler, a encontrei disponível num blog, o ComTextoLivre (contextolivre.blogspot.com.br) mantido por um “publisher” que não informa seu sobrenome, apresenta-se apenas como José Carlos. Esclareço este último detalhe apenas a título de registro e de vênia, jamais como omissão, erro ou julgamento, considerando que eu mesmo não sou eu, mas um avatar. Apenas cândido e "poliano".

Penso que, assim como eu, professor que sou, o jornalista também é um formador de opinião. Entendo, no entanto, que nosso ofício não deve impor opiniões, mas apenas instigar, apoiar e orientar o seu desenvolvimento nas mentes idealistas e muitas vezes inocentes, de nossos jovens. Dito isso gostaria de compartilhar algumas impressões acerca das crônicas, das notícias e das informações que veiculam em blogs, livros, jornais e revistas virtuais ou não, neste caso em particular, sobre a biografia do controvertido político brasileiro.

Se nos jornais e revistas, que são impressos regularmente, já era comum um espaço destacado para que os leitores pudessem manifestar suas opiniões, no ambiente virtual foram ampliados os canais de manifestação, com bastante prejuízo da qualidade dos comentários. Por vezes enviesados, tendenciosos e muitas vezes fanáticos e, ou, anônimos e, quando em vez, alguns comentários são produto de comentaristas 'engajados', eufemismo cínico para aqueles que são contratados para fazer propaganda de seus 'ídolos' patrocinadores.

Estas verdadeiras torcidas, com suas mentes uniformizadas, apaixonadas por seus ídolos, contaminam e são contaminadas por profissionais e professores que driblam a lógica, embaralham o conteúdo e, draconianos, vociferam fofocas com sarcasmo elaborado. Elaborado, para parecer crível e real.

Tem sido uma experiência especialmente gratificante orientar a pesquisa de meus alunos, cientistas juniores e encontrei neste episódio envolvendo tal biografia e sua resenha mais ácida, uma oportunidade para demonstrar a importância da metodologia científica como ferramenta de desenvolvimento do nosso conhecimento e formação da opinião razoável, responsável e fundamentada. Razoável ainda que refutável, já que opiniões são apenas extratos sinceros de perspectivas parciais, conquanto que não sabemos tudo.

Se de um lado o resenhista se revela, com bastante propriedade, um exímio investigador das minúcias e da acurácia de informações inócuas e deslocadas constantes na biografia objeto do livro, por outro lado o faz com esmero exagerado listando, salvo engano em meu inventário, 37 prováveis incongruências. Embora sejam muitos detalhes, me parecem 'erros de forma' quase risíveis que, em sua maior parte não afetam gravemente o conteúdo, mas exclusivamente o estilo, lamentável é verdade.

Agora, se não são apropriados esses detalhes, discutir se determinado evento, a 'rede nacional' (integração entre repetidoras de sinal de uma determinada frequência de canal de televisão) uma informação secundária e acessória, ocorreu em 1968 ou 1969, é igualmente bobo, para ser gentil com o resenhista; Destacar que o nome de um determinado cursinho era grafado com um ou dois 'eles' ('l' ou 'll'), ou que o nome de um personagem era com 's' ou com 'z'; Esclarecer que as 'arcadas' de um estabelecimento escolar não tem este predicado, arquitetonicamente falando ou; Importar-se com o número de andares de um edifício, se eram quatro ou cinco, são exemplos de um criticismo exacerbado sobre a forma para desconstruir o conteúdo, os argumentos do autor. Trata-se de típica estratégia para confundir o leitor misturando questões comezinhas com outras poucas relevantes. O próprio resenhista, fã (?) do político, por duas vezes admite que sejam “erros tolos, sem dúvida” diz uma vez e, mais tarde se repete, atestando que são “erros menores”.

Em benefício do resenhista, preciso registrar que entendo (e concordo) que tenha razão ao contestar o estilo satírico do autor da biografia, que erra, ao meu ver, na forma e no conteúdo ao perder-se na digressão acerca dos relacionamentos amorosos, dos adjetivos aplicados a essas mulheres ou sobre aparência delas ou, ainda, na sucessão de opções gastronômicas que parece mesmo próprio para um livro de receitas ou roteiro gourmet. Sua razão, senhor resenhista, se esvanece, no entanto, ao ensaiar sem constrangimento, um elogio dissimulado ao idealismo partidário do biografado e sua participação 'consagradora' (hein?), na fundação do partido.

É deplorável que, o autor da biografia e sua equipe, não tenham se prestado ao mister de verificar e revisar, como que desprezando a metodologia, a pesquisa, a origem e qualidade de suas fontes. Ainda que a maior parte de suas informações possam ser corretas, plausíveis e críveis, ao descuidar de muitos detalhes autoriza a resenha caustica e severa de seu detrator.

Não podem lhe proteger argumentos como 'não errei por má-fé ou falta de trabalho' ou, 'o problema derivou de fontes de informações erradas'. Do investigador científico, político, econômico ou social, exige-se mais do que a isenção de intenção, a indispensável consciência de sua responsabilidade objetiva, frente à necessidade de se testar e se certificar da qualidade e confiabilidade das fontes, oficiais ou não. Atribuir uma informação discutível a um 'mal-entendido', resultado de interpretação de uma entrevista envolvendo o protagonista e seu advogado é, no mínimo, um erro muito grave de investigação.

Ambos, o autor e o resenhista, demonstram que são excelentes articulistas e, embora muito competentes, parecem travar uma luta à parte, ou envolvidos na fogueira das vaidades de seus currículos, ou para atender aos interesses de seus patrocinadores. Aos que desejarem ler mais sobre o assunto recomendo o livro, a resenha (abaixo link do texto na íntegra) e as reportagens que apesar de inúmeras, repetem seus contendores preferidos. 

Ratifico aos meus juniores a importância de, ao lerem notas, notícias e opiniões, se certificarem da qualidade dos argumentos dos autores e de suas fontes, utilizando-se da dúvida como método, assim cartesiano por princípio, para depois com alguma experiência alcançarem a pós-modernidade subjacente e implícita nas entrelinhas para tentar mitigar as falácias, firulas e fofocas que ululam por todo lado.


LINKS
A resenha, disponível em: http://contextolivre.blogspot.com.br/2013/08/chutes-para-todo-lado_6.html  Acesso em 20/08/2013.

Matéria do jornal “Folha de São Paulo” repercutindo a resenha. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/08/1328999-erros-fazem-biografia-de-dirceu-virar-alvo-de-questionamentos.shtml Acesso em 20/08/2013.

Um comentário: