domingo, 16 de maio de 2021

Guerra fria civil no Brasil - Quem está vencendo?

João Wagner Galuzio

Era uma vez, a guerra fria, conflito internacional que durou décadas na segunda metade do Século XX envolvendo as duas maiores superpotências do planeta, os Estados Unidos da América e a, então, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Há historiadores que consideram, inclusive, que esse período e conjuntura representariam uma virtual terceira guerra mundial. 

Um temível, provável e sempre iminente confronto nuclear entre estas duas forças antagônicas e seus respectivos países satélites polarizaram um complexo sistema no campo de forças internacional. Dois impérios, uma só obsessão, prevalecer sobre todos, a despeito da liberdade e das vontades de todas gentes. 

De um lado, a URSS mobilizando países em sua área de influência na Europa do leste e parte substancial da Ásia e do Oriente Médio, enquanto financiava iniciativas socialistas em diversas repúblicas nas Américas do Sul, Central e na África. De outro lado os EUA e outras nações obedientes, como Canadá, Europa Ocidental e o Japão, se opunham ao totalitarismo comunista, nem que para isso fosse necessário viabilizar igual totalitarismo por meio de governos militares de direita. 

Muitos testes atômicos depois, a concorrência espacial e  uma extraordinária escalada armamentista acabaram por desarmar vários gatilhos para uma efetiva conflagração bélica, cujos desdobramentos poderiam levar à extinção da humanidade. Receio, medo, pânico ou pavor modularam o nível de tensão por toda parte até o esgotamento desse modelo na última década do milênio. Diziam que uma nova ordem mundial se inaugurava, balela. Vimos apenas o surgimento de um novo componente ocupando espaços deixados pelos antigos antagonistas, a China, no mais o mesmo.  

Eis que a atual conjuntura nacional não parece diferir do modelo havido durante a Guerra Fria, guardadas as proporções. De fato, talvez já tenhamos iniciado a nossa guerra fria, incivilizada, entre as nossas duas impotências (sic) democráticas que, radicais, pretendem impor sua vontade desigual, antes de compor uma sociedade plural. 

Se sustentam da cooptação de pequenos partidos vassalos, satélites dos grupos ideológicos diferentes, mas não distintos, são mesmo cínicos e obscenos. Dois blocos exclusivos entre si, uma só obsessão, prevalecer sobre todos, a despeito da liberdade e das vontades de todas gentes.

Essa nossa guerra civil é fria na forma e incandescente no conteúdo. Na forma as semelhanças estão nas armações, nos recíprocos golpes desleais, nas simulações e conchavos, no compadrio em comissões e comitês. No conteúdo, irrompem argumentos populistas de ideólogos (sic) idiotas e, ou, anacrônicos. Há aqueles que 'odeiam a classe média' enquanto uns outros, como touros enfezados, ululam 'nossa bandeira jamais será vermelha'.       

Em comum, não são unanimidade, como não reconhecem isso são megalomaníacos, tentam usurpar poderes constituídos e testam as placas tectônicas com apropriação de forças vermelhicidas (meu exército não deixará passar) ou da força de movimentos sociais (vou por o exército do MST nas ruas).  

Diversos institutos e mecanismos de pesos e contrapesos jurídicos  vão mediando nossa guerra civil, fria e insensível, adiando o fim da nossa civilidade. Receio, medo, pânico ou pavor vão alimentando o ódio e o nível de tensão por todo país. 

Quem vai vencer? Não sabemos! Podemos medir as perdas humanas, mais de quatrocentos mil em contínua progressão. Outras vítimas são tão irreparáveis como as vidas, visto que sem elas a vida não tem sentido, a educação, a cultura, a esperança e a liberdade. 




sábado, 15 de maio de 2021

Terceira via: mais civismo e menos narcisismo.

                                      João Wagner Galuzio 

Em redes sociais, por mais de uma vez me inqueriram em quem eu votaria, se não fosse no mecânico sindicalista ou no soldado nacionalista? Penso, se me permitem,  menos num nome e muito mais numa atitude, do candidato e dos cidadãos.

Minha opção, via de regra, é não votar em sujeitos que se apresentam como salvadores da pátria, estejam à direita ou à esquerda.

Não acredito em candidato que "joga para a galera"... que fala o que as pessoas gostam de fantasiar, para se esconderem de seus medos. Oferecem soluções fantásticas dizendo: vou resolver tudo no meu mandato... sou o melhor. Se apresentam como infalíveis.

Uai, caramba, é condição natural de ser humano, ser falível. Saber reconhecer nossos limites é meio caminho para o caráter honesto. Falar a verdade implica, inclusive (e especialmente), dizer das decisões graves e impopulares, que são indispensáveis, mas isso não dá voto...

Em nossa adolescente democracia gostamos de ouvir soluções mágicas (e simplistas) que "atendem" (#SQN) nossos desejos mais mesquinhos e, iludidos mantemos nossa mente em uma zona de conforto com falácias ou nacionalistas, ou socialistas. 

Duas utopias ingênuas, próprias de quem é imaturo emocionalmente, a primeira porque é xenófoba e odeia a diversidade, a segunda porque, querendo a diversidade, patrocina um tratamento único para todos, confrontando classes e coletivos, essencialmente diferentes entre si.

As duas não admitem a liberdade, o nacionalismo só reconhece "a fala" dos que pensam igual, enquanto a outra utopia quer impor aquele tratamento isonômico, mas odeia o debate quando fraciona os cidadãos por "lugar de fala"...

Lembrando que nacionalismo não é patriotismo. Hitler, Mussolini e Trump são alguns estandartes do nacionalismo burro e egoísta.

Outro aspecto grave da nossa ingênua democracia é essa necessidade de indicarmos um certo 'quem' ... nosso sistema político não está estruturado em ideologias e, ou, propostas de nação com partidos fracos e frouxos.

Prevalecem os indivíduos acima dos partidos que parecem menos agremiações ideológicas e se parecem muito mais com franquias mercadológicas: 

O que você quer? Faça seu pedido! Emprego? Nossa franquia é a melhor, até o nome da marca envolve trabalho.

Ah você quer educação? Nossa marca é especialista em adestramento moral.

Essas 'franquias' não têm líderes partidários, mas donos que se comportam como 'reizinhos' desde as capitanias hereditárias.  Não há desenvolvimento de novas lideranças, inauguram dinastias.

Esse modelo é ao mesmo tempo causa e efeito da miopia estrábica de eleitores que, ora nos comportamos como clientes dessas franquias (partidos), ora como torcedores.
Mais ou menos engajados (os clientes) ou mais ou menos fanáticos (os torcedores).