João Wagner Galuzio
Escrevedor e Cantador
Escrevedor e Cantador
Era uma vez um planejamento que era para ser estratégico. Ideia lógica e elaborada para orientar as decisões das organizações e viabilizar
resultados a longo prazo. Autores e pesquisadores consagrados, executivos e
empreendedores bem sucedidos definiram e realizaram os seus fundamentos.
Eu, modestamente, simplifico seu significado, tratar-se de
boas e melhores práticas de construir caminhos e soluções alternativas para alcançar
objetivos e verificar novas possibilidades. Um jeito assim de, ser agente da
mudança de seu destino pessoal ou empresarial. Pessoal pois também nós podemos
imaginar carreiras alternativas e complementares. Apesar de inúmeros ótimos
exemplos de implementação, o conceito sucumbiu ao imediatismo pragmático dos
resultados objetivos, disseminado em quase todas empresas e organizações. Prevalecendo a eficiência em prejuízo da eficácia.
Como resultado pode-se observar esplêndidas e idealistas
declarações de Missão Institucional, versões incríveis de metas e objetivos
estampados na Visão Corporativa em agendas, várias até bem coerentes. Valores que são declamados em prosa e verso em placas de bronze, banners
virtuais, selos, bottons e crachás, mas...
-“Caramba, mas e mais o que?" Você pode perguntar.
... falta-nos o essencial. Queria evitar a citação para não parecer clichê, acontece
que é inevitável. O apóstolo Paulo já, há quase dois mil anos, lembrava aos
Coríntios, sem nenhuma conotação ludopédica (sic) que, apesar de toda
sua sabedoria, ele poderia até mesmo a língua dos anjos falar, sem amor não restava
sentido.
- Ei! Conversa de amor no discurso das organizações!? Fala
sério, outro pode estrebuchar. Mas é
precisamente disso que estou falando. Falta-nos entender o capítulo treze da
epístola paulina.
Fazer, executar, operar, proceder, trabalhar, empreender,
implantar, manter ou mudar, além de planejar, organizar, dirigir e controlar,
estas funções mínimas de todo empreendedor, tudo isso sem entusiasmo, acaba inútil.
Muito esforço e eficiência sem eficácia.
Quando empresas diversas sonham com trabalhadores
eficazes, os batiza de intra-empreendedores, imaginando-os com farda e camisa
de funcionários, mas com alma profissional. Ótimos funcionários obedecem a normas e procedimentos com a inteligência
e disposição das melhores Unidades de Resposta Audível – URA, aquele robozinho surdo
que nas ligações telefônicas nos mandam, sempre em vozes gentis, digitar uma sequência interminável de opções e,
sem emoção, não falam ao coração.
Outro dia, dizia aos meus colegas aprendentes
e aprendizes nas escolas onde professo a causa da eficácia, estava num banco
buscando resolver um problema que se arrastava durante todo o período de greve,
nesta campanha trabalhista de 2013
Era minha primeira visita àquele banco e agência, então
procurei o gerente de atendimento para que me orientasse. Solícito, e muito
elegante, levantou-se ao me estender a mão. Dispôs-se a ajudar e orientou-me
como proceder.
-Retire uma senha e o senhor será atendido no “caixa
expresso”. Exultei. Imaginava, ora ‘expresso’, então o atendimento será
específico e objetivo. Para minha surpresa havia biombos a separar os atendentes e
a repleta fila de cadeiras onde os que seriam atendidos (jamais entendidos)
esperavam mansamente. Depois de alguns dez minutos, quando já muitas senhas dos
outros caixas eram chamadas sucessiva e freneticamente, finalmente o painel de
LED de cor vermelho-sangue-nos-olhos, anunciou uma primeira senha na mesma
classificação 'expressa' como a minha.
O número? 5019! Eu, 5038, desabei.
O número? 5019! Eu, 5038, desabei.
Resignado dizia em voz baixa e tentava me convencer: “Depois
de três semanas de greve, no primeiro dia de restabelecimento do serviço eu
venho e quero rapidez. Calma João!”
Espiei furtivo por trás dos biombos e constatei haver quatro atendentes
em exercício. Arrisquei perguntar explicando o procedimento que me atormentava.
Sorridente e generosa a jovem assentiu. –”Sim, o senhor já será atendido pelo ‘caixa
expresso’ o único destacado para esta função”.
Voltei para o meu lugar, olhei o placar e já se passavam
quarenta minutos desde quando havia retirado a senha e o 5022 acabara de ser
chamado. Outros clientes estavam nervosos e eu, estranhamente, talvez um
pouco anestesiado, rezava. O caldo entornou em seguida quando, depois do 5022, o placar
anunciava o próximo número: 5045...
Hein?
Ah, não! Corremos todos que esperávamos, doce e amargamente,
ao caixa expresso onde, surpresa, não era mais a mesma menina quem estava atendendo
antes. Ela, como todos, esboçou um sorriso (que, àquela altura já parecia deboche) e nos
tranquilizou a todos. Todos? Quem eram 'todos' (de 5023 a 5044, seria vinte e
dois) a essa altura? Éramos três. Dezenove almas haviam se desgarrado deste
humano rebanho
Muito eficiente, a nossa algoz pôs-se a chamar cândida e ‘polianamente’
todos os números. Nesta procissão eletrônica de ausências sucessivas,
consumiram-se outros cinco minutos até que, cinquina, 5038, eu.
Enquanto era atendido mais uma novidade. Recebi o meu novo cartão de débito com o meu nome grafado JOO. É, de João virei JOO. A esta altura, quase
duas horas na fila e 14 horas no relógio, veio minha namorada resgatar-me,
talvez desconfiada deste meu ‘almoço executivo’ mal explicado.
Depois de narrar
a epopeia dei-me conta de que todos, o gerente, os atendentes e a expressa
funcionária estavam tranquilos e serenos por terem cumprido eficientemente o
protocolo, sem enxergar além dos biombos.
Mais um minuto de conversa e reflexão foi suficiente para
lembrar-me de inúmeras situações em que somos atendidos de modo gentil e
inútil. Operadores de telefonia, de cartões de créditos ou de órgãos públicos
que, quando conseguimos acesso, são muito prestativos com seus procedimentos
imprestáveis.
Estupefato, calei-me ao tentar medir o meu quinhão nesta
eficiente conspiração. Percebi logo que estamos todos eficientes esquizofrênicos,
bem adestrados, repetindo protocolos sem qualquer envolvimento ou emoção. Um
provérbio de Voltaire hoje muito popular me veio à mente: “O ótimo é inimigo do
bom”. E assim vamos buscando a boa eficiência e perdemos de vista a eficácia, o
ótimo.
No Planejamento Estratégico? Igual... Veem-se lindos discursos
vazios. Ou, quem já não viu empresas gravando sua Missão nos crachás dos funcionários, menos na mente ou no coração. Em dia de auditoria do sistema, ficam todos recitando a cantilena missionária. Quem já viu uma
reunião de diretoria em que o diapasão das decisões era o conjunto de Valores,
como uma lista de compromissos para garantir a coerência entre a prática e a
falação? Nada, espero bastante ansioso conhecer quem o faça.

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