terça-feira, 24 de abril de 2018

Aécio, o Néscio.



João Wagner Galuzio
Pretendendo ser razoável e coerente, busco considerar diversas perspectivas e verificar informações desde sua origem, contexto e consequente aplicação. Esse exercício não é simples, fácil e tampouco confortável. Trata-se de hábito complexo que exige leitura serena, responsável, minuciosa, crítica. Pouco confortável na razão direta em que se deve estar permanentemente alerta para investigar modelos mentais que nos mantém suaves em nossa zona de conforto.


Procedimentos mínimos que são necessários para enfrentar, desde questões mais comezinhas, até temas severos e espinhosos. Debate polêmico é saudável e oportuno, mas muitas vezes é submetido a dogmas e subvertido por ideologias radicais. A polêmica deveria ser uma qualidade da política e deveria representar a arte de construir uma identidade valorizando a diversidade mediante o respeito incondicional ao contraditório. Diferente disso, cada vez mais observamos o embate como meio e fim do processo, como a dizer, se é diferente então é contestável.

Contestação que muitas vezes leva à consternação, quando ideias, projetos e propostas idênticos ou, pelo menos, semelhantes são ovacionados ou ojerizados conforme a agenda do lado que está ‘dono da bola’ em absoluto prejuízo do discernimento e, pior, do interesse da nação. Preâmbulo oportuno para exorcizar a minha própria consternação, diante de denúncias envolvendo o candidato que representa o projeto político que eu avalio como mais efetivo.

Não posso dizer que o considerasse uma vestal num estabelecimento de duvidoso pudor, sei que não há ingênuos e que a malicia é a base dos relacionamentos, em todos expedientes públicos do país. No entanto, o sofrível e asqueroso nível de seus comentários, evidente em suas conversas telefônicas, devassadas por ordem judicial, é patético.

Mais uma vez, não quero ser puritano ou hipócrita, que pudesse ousar requisitar um reservado e imaculado vocabulário daquele senador, logo eu que, colérico, inauguro impropérios inimagináveis a cada pane de meus gadgtes. Para dirimir meu desalento, prefiro crer que possa ter sido vítima de um episódio de pareidolia, talvez querendo ‘enxergar’ traços de Tancredo, em neves imundas de carreiras entorpecentes. Quereria mesmo salvar minha consciência ao conjecturar hipóteses conspiratórias, mas seria um desperdício de oportunidade para tentar garantir algum esboço de inteligência.

Se eu considero canastrão, o pródigo orador que ocupa sua suíte presidencial, na cobertura simplex de Curitiba, não é menos desgraçado este parvo e néscio, o Aécio. Conspurcou a historiografia de sua família e trucidou sua própria biografia. Do significado etimológico de Aécio, a águia heroica dos romanos, restou apenas reles, a ave de rapina, em sua natureza mais visceral e eu adulto nunca me senti tão estulto.

Frustrado, tentava estabelecer algum parâmetro para que pudesse oferecer algum plano ou nível de equivalência entre aqueles dois impudicos homens públicos, as citações eloquentes que suscitei se revelaram apócrifas, nem Lenin, nem Voltaire. 
Nem Lenin teria dito “Acuse os adversários do que você faz e chame-os do que é” e tampouco Voltaire teria declamado: “discordo do que você diz mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo"; dois sofismas recorrentes utilizados à direita e à esquerda ou para acusar ou para se escusar. À direita parece inequívoco que, quem quer que seja o autor do ditado, ele descreveria a tática de desinformação adotada pela propaganda sinistra. À esquerda, beócios gritam inocência, ratificação exagerada que faz duvidar. 

Nada, órfã a inteligência delinque, resta o império da paixão, acorrentada aos grilhões da certeza incontornável e inflexível. Muitos novos capítulos dessa ópera bufa irão nos iludir, mudarão apenas os protagonistas, o enredo continua, mas néscio, o Aécio desaparece.

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