João Galuzio
Soubemos recentemente pela
imprensa, que o detento mais ilustre do Brasil "está lendo muito e bastante
consciente dos problemas do Brasil” como declarou uma senadora, sua
correligionária, no âmbito de uma visita humanitária patrocinada pela Comissão
de Direitos Humanos do Senado, para verificar as condições prisionais na sede
da Polícia Federal em Curitiba.
É bastante curioso, embora
lamentável, que não tenhamos visto igual celeridade e probidade na investigação
de chacinas havidas em instalações prisionais por todo o Brasil, notadamente os
recentes eventos afetando cadeias no Pará. Não surpreende também que, apesar do
objetivo da inspeção ser “a verificação das condições da carceragem” quase pouco
ou muito nada (sic) se disse a respeito.
Muito mais se disse sobre
o entusiasmo do detento pela literatura e de sua douta consciência acerca dos
problemas nacionais e, para não ser mais explícito, de sua alegria por ouvir a matraca
diária da claque que acampou próximo ao cárcere. A mesma senadora (e seu cônjuge)
enfrenta denúncia que aponta a interpretação própria e exclusiva sobre reforma
previdenciária, que a excelsa parlamentar mantém explorando os endividados
funcionários públicos aposentados e logo terá oportunidade de hospedar-se junto
ao messiânico líder.
Exposta toda balela, aproveitando o horário gratuito que lhes é oferecido candidamente para fazer propaganda e manter a tropa em ordem unida, subsidiando o nhem-nhem-nhem para fazer parecer senso comum. Essas não-notícias representam um expediente habitual, utilizado por estes especialistas em comunicação social, para pautar a mídia. A mesma mídia que vociferam.
A mídia, essa coisa amorfa,
real ou virtual, representaria o conjunto de veículos de imprensa em todos os meios, que
reúne incontáveis críticos, jornalistas, cronistas e analistas, homens e
mulheres mais ou menos preparados, que observam a política diuturnamente, mas que
se deixam prestar a esta reiterada manipulação e que, repercutindo, estão servindo àqueles,
no que lhes interessa como lhes convém.
Rápido, a mídia repercute
dócil e útil: “[o presidente detento] lê, pensa e ouve o país” Por último
claudicam seus comparsas: Oh céus, que tortura torpe, ‘ele está sozinho’. Não
observei nenhum órgão de imprensa esclarecer que a solidão ocorre em benefício
do meliante, para sua segurança e em homenagem ao cargo, pois não fosse isto, restar-lhe-ia
uma cela com dezenas de outros condenados, compartilhando uma indefectível e
insalubre fossa sanitária.
Sinais esquizofrênicos
demonstram que, toda esta canhota horda, vislumbra realidades alternativas ou estimulam
sua pós-verdade, um eufemismo para dizer que, “o que é subjetivo pode ser mais
efetivo do que aquilo que é objetivo”. Adoto regularmente a ‘Regra 180’ para o
que dizem e, na maior parte das vezes é o que traduz a realidade. Quando se diz
“ele está tranquilo” (a 180º) o cidadão está surtando. Ao mesmo tempo quando
indicam tratar-se de um líder estadista, nos bastidores de sua intrincada rede
social vaza-se: “Cadê as muié de grelo duro?” ou, em bastante alto nível
declara ‘carinhosamente’ o predicado de pré-candidata à presidência: “garota
bonita”. Nos dois casos foi santificado pelos parvos. Tão fofo, não é?
Academia
Sem Noção de Letras
Dizer que o doutor honoris causa, ilustríssimo dishonoris sem-causa
está lendo livros de História e sobre o futuro da humanidade é risível, faz-me
lembrar de entrevista ao Canal Livre, nos anos 1980 quando, o então líder
sindical foi perguntado:
Canal Livre: Você está
fazendo muitas citações de 1930, 1906... Você não está estudando nada? Você
sente necessidade de estudar?
Resposta: “Não, eu
acho que, olha... primeiro eu sou muito preguiçoso, até pra ler eu sou
preguiçoso... eu não gosto de ler, eu tenho preguiça de ler, é uma questão de
hábito.”
Mais recentemente, a Sra.
Dilma, responde ao seu modo peculiar, a bastante lúcida presidenta (sic),
vejamos: “Dilma, quais são os seus livros preferidos?”
Dilma: “Bom. Livros,
né? Eu estou lendo um livro ... tá me fugindo ... eu tentei falar um pouco
sobre a novela, pra vê (sic) se eu lembrava o nome do livro e não lembro ... do
Sándor Marai ... o livro chama (sic).... as... as... as... brasas... isso mesmo,
As Brasas ... é uma talvez uma das
[silêncio constrangedor] ... assim, me impactou muito ... eu conclui ele ontem à
noite rapidinho porque eu ... eu consigo lê (sic) no domingo.”
Se o detento sempre se
revelou um extraordinário comunicador, em que pese o seu desprazer pela leitura,
já não se pode dizer de sua dileta sucessora. Depois de uma forçosa revisão de
seu currículo, enquanto candidata apresentava-se como ‘dotora’ em Economia o
que mais tarde se verificou Bacharel. Buscava um verniz intelectual ao seu
perfil, na prática se revelou um completo desastre na prosa e colapso absoluto
em verso.
Dada a licença poética
à lucidíssima douta senhora de se fazer alcunhar como ‘presidenta’, dou-me a
vênia de predicar seu inculto predecessor adequada e proporcionalmente, como o primeiro
“presidetento” do país. Numa definição singela, caberia o registro num
dicionário não-oficial desta Academia Sem-noção de Letras dois estes dois neologismos:
Presidenta (s. f.)
indivíduo do gênero feminino que violenta o vocabulário pátrio.
Presidetento (s. m.) indivíduo
megalo-pseudo-messiânico ex-presidente e presidiário.
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