quinta-feira, 20 de julho de 2023

Nórdica é a caminhada, amizade é o destino.

 João Wagner Galuzio


Você, com certeza, conhece uma pessoa introvertida que, não precisa ser tímida. Muitas vezes, pode ser só discreta ou focada. Você, igualmente, pode ter um amigo extrovertido, daqueles que fala pelos cotovelos e, que, por incrível que pareça, talvez seja mais tímido que a primeira pessoa. 

Agora, além dos extrovertidos falantes, há os italianos e seus descendentes que, animados, falamos pelos cotovelos, com as mãos, pelos joelhos... O corpo todo é um complexo sistema de falar e dizer, com caras e bocas, bicos, beiços e muxoxos. 

Nesta hierarquia dos loquazes, imagine um paesano, professor e corretor. Um dicionário inteiro não é suficiente para encerrar sua eloquência e, nessa prosopopeia, microfones ficam roucos e sem folego. Sou eu! Neto de italianos, cantador e contador de histórias e estórias.    

Dependente intensivo de relacionamento humano, sou daqueles que fala com a própria sombra e troco altos papos com o espelho, sozinho no elevador. Minha filha, muitas vezes, me pergunta se sou candidato a quê, considerando que cumprimento a todos que encontro, amigos, vizinhos, estranhos, todos. Sou do tipo fácil.

Sou um professor feliz, abuso da retórica, louco por metáforas e um bocado de anedotas, para desespero de meus alunos. Na prospecção de novos contatos ou na divulgação de meus bons imóveis encontro a satisfação de conhecer novas gentes todos os dias. Eu, deliro.  

Uma graça diária que me proporciona bons momentos quando, às vezes, sou ouvinte e outras vezes sou consulente. Menos vezes, não poucas, encontro gente grande. Grande inteligência, grande coração, grande cultura e maior identidade ou afinidade. Entre eles o Carlinhos, um espírito jovem com pouco mais de sessenta anos, dono de enorme energia.

Seu entusiasmo é imenso e usa e explora toda toda sua natureza, cabeça, tronco e membros que, estes, não dão conta de tanta vibração e, então, extravaza sua força além de seus braços e pernas, em seus bastões de caminhada nórdica, extensão biônica de teus membros. Uns poucos encontros se converteram em aulas dessa marcha nórdica. 

O destino desta amizade? Vai longe e novas ferramentas, como próteses (bastões) serão necessárias para manter constante essa trilha, numa jornada easy rider. Se este italiano fala pela mãos, o meu nórdico companheiro expressa seu amor pela vida e seus valores usando seus bastões.

terça-feira, 18 de julho de 2023

Todas as Divas, uma só mulher!

 

Todas as Divas, uma só mulher.


João Wagner Galuzio


Romântico dramático, quase erudito, misturo parnasianismo rococó e realismo fantástico, mais uma dose extra de prosa formal para esboçar um elogio às mulheres, todas divas.

Todas são divas, mas todas divas representam um extrato do meu amor, uma face da singela e poderosa Dulcineia como um cavalheiro de triste figura, que sou, quixotesco.

Rabisco ensaios para fingir-me ventríloquo de Cyrano, sob o alpendre de minha Roxane ideal.

Romeu narcisista, levanto meus olhos além dos altos terraços onde minha Julieta, apaixonada, imagina e espera seu herói.

Jane Austen me ilumina com seus protagonistas Elizabeth e Darcy, um pouco de orgulho, mas nenhum precoceito. 

De Violeta, sou o Alfredo mais devastado e o meu imenso amor, misterioso, é cruz, é delícia e arde como fogo que não se vê, como já ilustrava o Vieira. 

Você, meu amor, uma só mulher, única é a minha Diva absoluta. Resume todo poder, todas virtudes, vontades, vaidades e todos deliciosos pecados, os inocentes e os mais inconfessáveis. Todas as Divas em um só, meu amor.

 

1.                 Diva essencial

Tua inteligência livre tem o poder de encantar todos que deixa conhecê-la.

Os olhos incandescentes, lancinantes, fulminam sua indecência pura e verdadeira.

A voz sensual expressa a delícia de sua malícia intensa e inocente.

Os lábios doces exalam o bálsamo da quente, úmida e suave sedução.

Como seda, os cabelos generosos agasalham o rosto sereno e gentil.

Rendo-me feliz ao desejo misterioso de te envolver em meu afeto.

Luz primordial, você me ilumina e, me iluminando, também aquece o meu ser.

 

2.                 Diva virginal

Doce. Você é doce!

A idade não descreve tua alma, você não tem idade.

Vejo você, virginal, aos dezoito, igual aos trinta e oito ou mais, a tua natureza gostosa é sempre a mesma, viçosa.

Tua aura pura, é o manto, o véu que veste tua alma sensual.

Teu olhar, oh bela, tão ingênuo, constrange até a fera mais lasciva.

Um simples gesto teu é capaz de abduzir e logo, manso, a fera é feito noviço.

 

3.                 Diva sereia

A mitologia, em muitas culturas, a descreve mística, deslumbrante.

Rouca, tua voz estonteante pode arrebatar o bárbaro mais rude.

Quisera que essa quimera, em sua magia, pudesse me arroubar.

Por águas insidiosas eu me encharcaria, atrás de teus cantos maviosos. 

Gigante, rendo-me às tuas canções em letras repletas de amor e prazer.

 

4.                 Diva serena

Paz, intensa e instigante. Tua paz é solo onde viceja a ternura.

Base, piso e chão onde, fértil, produz amor e harmonia.

Teu sorriso é alicerce da estrutura mais linda do meu bem querer, meu coração.

Serena e silente, tua extensa excelência ilumina lindos horizontes.

 

5.                 Diva encantadora

Tu és a beleza própria de um coração que brilha e inebria.

Se eu vislumbro amor, você escancara a paixão mais entorpecente.

Não há remédio que possa aplacar o entusiasmo de minha devoção.

Virtuosa, você é o meu vício mais delicioso. Contradição? Não, paixão.

 

6.                 Diva predadora

Empreendedora, és predadora incansável, avança e consome todo meu amor.

Tu fazes da conquista um jogo fanfarrão, para devastar esse ingênuo inocente.

Vítima feliz, eu sou, brinquedo de teu amor, objeto das tuas fantasias. 

Mais louca de minhas amantes ideais, você me devora.

 

7.                 Diva fascinação

Inatingível, parece estar, além dos meus sonhos mais platônicos.

Eu nem acredito trocar transpiração, enquanto ofegamos juntos.

Não sei mais o que é mito ou realidade, o que é sonho ou intimidade.

Você é muito real. Teu fascínio, feitiço fantástico. Devaneio surreal.


8.                 Diva ingênua

Verdadeira, sertaneja, prenda brejeira, menina moça matreira.

Descolada e exuberante, és sofisticada e vibrante.

Aprendiz de Nefertiti, Lilith e Morgana, sensualidade imanente.

Toda nua, sua juventude se insinua, ingênua, feminina, minha vida é toda sua.

 

9.                 Diva poderosa

Valente e corajosa, deusa indecorosa, ninguém é capaz de enfrentar tua força.

Onipresente, não posso escapar dessa servidão à tua adoração.

Avassaladora, faz escravo o vassalo e, vassalo o prepotente.

Forte e continente, diante de sua fortaleza restam músculos indigentes.

 

10.             Diva etérea

Sublime, tua presença transcendental parece um holograma.

Por onde vou, virtual, tua imagem evanesce

Esotérica, remanesce etérea. Nunca efêmera, permanece em mim.

Entidade benfazeja te vejo em todo lugar, te reconheço em toda mulher.

 

11.            Diva musa

Inspiradora, não fala. Entre sustenidos e bemóis, declama em tons harmônicos.

Expiração sensual encontra teu mantra musical em tua ninfa vibração. 

Nove são as musas, mas você é a predileta, minha catarse, sintonia estética.

Extrovertida, teus graves e agudos candentes, cadenciam o ritmo do teu amor.

 

12.             Diva divinal

Excelsa, flanando na Acrópole, exorbita teu alto astral alienado e celestial.

Abraçada pelo sol, Vênus enternece cada um dos teus súditos satélites.

Sideral, Afrodite, és uma constelação inteira de ouro repleta de amor.

Divina e maravilhosa, santa e angelical, tua saborosa malícia, é genial. 

 

13.            Diva eterna

Há o efêmero, quando você é terna e, haverá sempre o eterno, quando esmero.

Nenhum calendário pode te controlar, não posso te localizar na linha do tempo.

Intempestiva, tua volúpia atravessa todos os tempos.

Atemporal, estás à frente do teu tempo. É modelo de tradição, mas veste inovação.

 

14.            Diva silenciosa

Teu sorriso Monalisa é eloquente, misterioso e provocador.

Tua estampa tem a classe e a doçura da jovem maternidade.

Quantos segredos encontram abrigo em você?

Cada olhar, cada gesto, cada toque, todos intensos e expressivos.

 

15.            Diva passional

Possessiva e passional, tua paixão exaure o amante mais obsessivo.

Tens o poder de manter tudo sob sua visão, grande angular e panorâmica.

Observa e consome tudo que tem vontade, nada escapa ao teu sentido aguçado.

Percebe e devora cada detalhe e enxerga o todo, em seu domínio.


 16.            Diva absoluta

Na alvorada, sente a seda macia roçando tua pele, um pêssego suave.

Amor maiúsculo toma conta de tudo à sua volta e alcança todos que deseja.

No crepúsculo assume a personagem diva, como quem veste um cetim.

Calor do teu amor incendeia todo meu corpo, tu és em síntese, a sinfonia magistral.

Integradas, todas divas são um idílico devaneio, por quem devoto meu ser.

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Primeira carta da sociedade dos poetas elegantes.

 João Wagner Galuzio


Esta primeira carta a um poeta elegante é inspirada num best seller dos anos 1990, "Cartas a um jovem poeta", uma coleção de mensagens trocadas no início do século 20, entre Rainer Maria Rilke e o jovem poeta Frank Kapuss. O veterano poeta revelou-se um autêntico coach para o noviço, ao compartilhar sua experiência ao exortar a importância da identidade nos textos do candidato a poeta.

Gosto de escrever desde a adolescência quando, no seminário franciscano, produzi várias dezenas de textos, bastantes deles bem apreciados pela minha alma confidente, a irmã Fides. Egresso do meu caminho entre os irmãos menores, rabujento, descartei todo material.

Do casamento. Já um pouco mais maduro, uma nova mentora me estimulou, dizendo verdades insuportáveis em feedbacks necessários e logo a enquadrei, no altar e, num sábado de verão, nos casamos. Logo voltei a escrever, sempre por diletantismo. 

Diz-se do virginiano ser um indivíduo analítico e sistemático, descendente de alemães que sou, muito mais. Dito isso, sou escravo de uma autocrítica severa e rigor formal ainda mais austero, motivo porque meus escritos, querendo ser leves, têm a densidade de uma pluma de chumbo. Poucas vezes deixei outros, que não a minha família, conhecerem minhas linhas.

Recentemente, no ofício de minhas atribuições, em mais uma nova profissão, antes Administrador e Professor, como Consultor Imobiliário, eu recebi em atendimento, um casal de vizinhos do empreendimento onde estou dedicado quando, naquele mesmo dia, inaugurávamos nossas atividades.

Já era noite e o horário estava, virtualmente, encerrando a jornada diária. Eu insistia para que mantivessem aberto o estande de vendas, considerando que estava na vez de atendimento, enquanto o líder da equipe concorrente, concorria para que se fechassem as portas.

O encontro foi efêmero e não consumiu mais do que uns poucos minutos, mas foi bastante suficiente para fundar uma relação de mútua empatia, tantas eram as afinidades, uma verdadeira conspiração do universo e sua sincronicidade. 

A inteligência generosa dos dois, muito rápido, entendeu a malícia do meu apelido, adotado para estabelecer uma relação de identidade com o nome da empresa que ora represento. Novos encontros se sucederam e essa relação têm-se revelado um presente, uma oportunidade. Percebo nestes novos amigos, novos mentores que, me renovam em seus bons conselhos e, numa primeira 'carta a este velho poeta' detonaram meus grilhões.

Cada vez mais seguro, quero escrever e descrever meus ideais, meus dramas, minhas alegrias, medos e fantasias. Talvez em função desse início mais pragmático, próprio de uma atenção isenta e objetiva, características de uma relação profissional, a sequência de eventos tem sido cada vez mais pessoal, natural e informal. Sem pretensões ideológicas de lado a lado, sem dogmas e com os espíritos desarmados, resta o aprendizado, mútuo e saudável. 

Uma ode à vida nesta tribo virtual e digital, onde a humildade é a mais poderosa ferramenta da nossa aprendente humanidade. Hurra!

A carta, manuscrita.