segunda-feira, 17 de julho de 2023

Primeira carta da sociedade dos poetas elegantes.

 João Wagner Galuzio


Esta primeira carta a um poeta elegante é inspirada num best seller dos anos 1990, "Cartas a um jovem poeta", uma coleção de mensagens trocadas no início do século 20, entre Rainer Maria Rilke e o jovem poeta Frank Kapuss. O veterano poeta revelou-se um autêntico coach para o noviço, ao compartilhar sua experiência ao exortar a importância da identidade nos textos do candidato a poeta.

Gosto de escrever desde a adolescência quando, no seminário franciscano, produzi várias dezenas de textos, bastantes deles bem apreciados pela minha alma confidente, a irmã Fides. Egresso do meu caminho entre os irmãos menores, rabujento, descartei todo material.

Do casamento. Já um pouco mais maduro, uma nova mentora me estimulou, dizendo verdades insuportáveis em feedbacks necessários e logo a enquadrei, no altar e, num sábado de verão, nos casamos. Logo voltei a escrever, sempre por diletantismo. 

Diz-se do virginiano ser um indivíduo analítico e sistemático, descendente de alemães que sou, muito mais. Dito isso, sou escravo de uma autocrítica severa e rigor formal ainda mais austero, motivo porque meus escritos, querendo ser leves, têm a densidade de uma pluma de chumbo. Poucas vezes deixei outros, que não a minha família, conhecerem minhas linhas.

Recentemente, no ofício de minhas atribuições, em mais uma nova profissão, antes Administrador e Professor, como Consultor Imobiliário, eu recebi em atendimento, um casal de vizinhos do empreendimento onde estou dedicado quando, naquele mesmo dia, inaugurávamos nossas atividades.

Já era noite e o horário estava, virtualmente, encerrando a jornada diária. Eu insistia para que mantivessem aberto o estande de vendas, considerando que estava na vez de atendimento, enquanto o líder da equipe concorrente, concorria para que se fechassem as portas.

O encontro foi efêmero e não consumiu mais do que uns poucos minutos, mas foi bastante suficiente para fundar uma relação de mútua empatia, tantas eram as afinidades, uma verdadeira conspiração do universo e sua sincronicidade. 

A inteligência generosa dos dois, muito rápido, entendeu a malícia do meu apelido, adotado para estabelecer uma relação de identidade com o nome da empresa que ora represento. Novos encontros se sucederam e essa relação têm-se revelado um presente, uma oportunidade. Percebo nestes novos amigos, novos mentores que, me renovam em seus bons conselhos e, numa primeira 'carta a este velho poeta' detonaram meus grilhões.

Cada vez mais seguro, quero escrever e descrever meus ideais, meus dramas, minhas alegrias, medos e fantasias. Talvez em função desse início mais pragmático, próprio de uma atenção isenta e objetiva, características de uma relação profissional, a sequência de eventos tem sido cada vez mais pessoal, natural e informal. Sem pretensões ideológicas de lado a lado, sem dogmas e com os espíritos desarmados, resta o aprendizado, mútuo e saudável. 

Uma ode à vida nesta tribo virtual e digital, onde a humildade é a mais poderosa ferramenta da nossa aprendente humanidade. Hurra!

A carta, manuscrita.


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