João Wagner Galuzio.
Escrevedor e Cantador
Escrevedor e Cantador
Neste nosso inverno brasileiro de 2013,
talvez inspirados por manifestações como as havidas recentemente em vários
pontos do planeta como a Primavera Árabe e o Occupy Wall Street, veem-se por todo o país uma sucessão de eventos
semelhantes, uns mais tensos e belicosos, outros mais extensos e
pacíficos.
O que se iniciou como localizadas e
focadas manifestações inter-relacionadas, organizadas para contestar o aumento
das tarifas de transportes públicos e, mais do que isso, a própria extinção
destas tarifas converteu-se, vertiginosamente, num conjunto de protestos
generalizados, difusos e independentes. Viu-se como que uma explosão de
cidadania em diversas camadas sociais, de todas faixas etárias e muito
especialmente dos muito jovens, o que é deveras auspicioso.
Cientistas políticos e sociais, jornalistas
e economistas, advogados e autoridades entre outros profissionais foram
surpreendidos pela qualidade e dimensão dos fatos. Esboçam, de modo confuso,
argumentos, hipóteses e teorias para tentar analisar e explicar o que está
acontecendo e, ou, prever suas possíveis consequências e desdobramentos. A classe
política, da extrema esquerda à ultra direita, desmoralizada se ressente do
caráter apartidário e da virtual aversão que a sociedade está demonstrando nas
ruas.
Eu, candidamente, não irei enfrentar esse
desafio de tentar esclarecer, sem me escusar dos vícios naturais próprios de um
ingênuo e idealista que sou e que posso cometer. É surpreendente, no entanto,
observar que algumas considerações parecem, no mínimo, apressadas,
irresponsáveis e, para dizer o mínimo, confusas.
Duas confusões me incomodam
particularmente. A primeira e menos importante diz respeito ao slogan "Sem Partido" que a maioria
dos manifestantes tem gritado, escorraçando bandeiras de agremiações políticas
que, aos olhos do povo, parecem oportunistas e sem moral para adotar e explorar
as massas. Vi mesmo um cientista político num jornal de TV a cabo,
indignado com esta situação diante do registro de uma ocorrência em que a turba
aos urros, expulsava integrantes de um partido quando tentavam agitar suas bandeiras.
- É muito grave e extremamente preocupante
que as pessoas façam isso, pois as 'instituições' precisam ser preservadas,
senão teremos o caos, bradava o intelectual. O que ele, talvez mais ingênuo do
que eu, se esqueceu de considerar é que exatamente o grupo execrado na passeata
tem, por princípio, ojeriza às instituições, patrocina o escárnio às leis e à
civilidade e quer ditar o seu bordão como se fora a
única salvação.
Os cidadãos, imagino a maioria, não
estão e não são contra os partidos, mas contra a demagogia. Queremos e até
gritamos por "partidos sim" efetivos, éticos e responsáveis.
Protagonistas da moral cívica, coerentes com seus discursos e propostas, no
lugar adequado, a saber, nas casas legislativas, municipais, estaduais e no
congresso nacional.
A segunda confusão e mais importante
refere-se ao ufanismo exacerbado, emblemático em cartazes como "o gigante
acordou" e assemelhados, deslumbrados com a "consciência" do
brasileiro que teria despertado depois de décadas de alienação, anestesia e silêncio.
Admito que é contagiante reconhecer na multidão a cara pintada, mas limpa, da
gente simples e humilde, irmanados todos em prol de distintos e distintivos
valores patrióticos, com o necessário e delicioso destaque aos jovens.
Depois da cortina de fumaça que as
autoridades adotaram para gerir a crise e desmobilizar o movimento, a poeira
vai baixando e se pode raciocinar com um pouco mais de isenção para
constatarmos que continuamos os mesmos. Nós ao mesmo tempo odiamos a corrupção,
enquanto buscamos a todo instante um "jeitinho brasileiro" para não
cumprir alguma regra, por menor que seja para levar alguma vantagem. Esta nossa
pretensa maturidade exigirá uma fulminante mudança de comportamento que não sei
se estamos preparados para assumir enquanto nação.
Alguns poucos jovens com seus estandartes
- e slogans - lutam por uma democracia, mas, ao
arrepio da vox populi,
vociferam contra tudo e contra todos que são diferentes e que pensam de modo
diverso ao seu. Neuróticos, são vítimas de gente ardilosa, que sorrateiramente
enxáguam seus cérebros inocentes e carentes.
Radicais estes facínoras seduzem estas
tenras e brilhantes mentes oferecendo-lhes auto-estima ao preço de sua
capacidade de pensar e debater. Apesar da boa índole, estes adolescentes
tardios e inocentes se compadecem, projetando ódio àqueles que ousam pensar em
vez de os obedecer. Cordeiros comportam-se como lobos, julgando, rotulando e
classificando sumariamente quem não matraca seus gritos de guerra. Gritam como
se argumentos fossem, predicado (julgar) tão peculiar aos fascistas que impõem
sua vontade aos outros, não obstante o matiz de sua flâmula.
Falta-lhes experiência e malícia.
Sugeriria, se me ouvissem, que assistissem a três filmes para refletirem
sua atitude. O primeiro "Ausência de Malícia" com o inigualável Paul
Newman e a "então jovem" Sally Field, produzido em 1981. Depois, o
filme "Twelve angry men" de 1997, cujo título foi maltratado
no Brasil convertendo-se em "Doze homens e uma sentença". Há uma
primeira versão de 1957, mas ambas são igualmente instigantes.
Por último lembrei-me do filme
"Crash" de Paul Haggis, realizado em 2004 que escancara o
universo de contradições, ambiguidades e paroxismos que envolve a complexidade
de valores do homem moderno e a fragilidade das relações humanas. Ambientado
nos Estados Unidos, reflete razoavelmente as caricaturas do ocidente.
Há que se ter um pouco de solenidade e
humildade para investigar esse fenômeno extraordinário que ameaça solapar e
pulverizar nossas certezas.

Um comentário:
Então, caro "brother", já que sua intenção não é outra senão instigar as mentes atentas, embora ainda não seja esta minha real condição porque também não sei bem o que está por chegar e com tantas idiossincrasias talvez justamente porque Deus deixou de ser brasileiro? Estamos órfãos? Deixaram de pedir e começam a reinvidar? Que estado de consciência é esse que faz surgir uma nova política nas terras desta pátria e mãe tal gentil? Um novo ciclo avança destruindo o que é velho. Sempre e sempre a renovação dos ciclos. Das velhas formas de pensar e agir. Cultura rotineira do passado que não tem mais lugar no coração pulsante dos jovens. Jovens rebeldes por oportunidades,liberdade e expansão do espírito criativo que repousa dentro do coração, bem nas profundezas da alma, lá onde o Grande Espírito libera parte de Si, como Novo Filho Pródigo nesta Terra sempre tão sedenta de luz. Um filme também remete a situação vigente: Coração Valente: Lembra aquele velho carcomido pela lepra atrás da cortina, agindo sempre nas sombras, como que ditando o status quo? Sim, sempre o poder reinante (estado anterior de consciência) agindo como oposição ao novo. O pulsar do velho e do novo. Infinitamente. Desde que o homem é homem. Só que agora numa velocidade avassaladora, para os padrões atuais. Então seria o Homo Internectus o ressurgimento da Fênix? Não estavam sozinhos, apenas ainda não tinham se encontrado. Perdoai aqueles nos partidos. Partidos são plurais. As mentes humanas são plurais. Ó sim! Como terminam as revoluções? Ninguém sabe. Enfim, o futuro dirá.
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