João
Wagner Galuzio
Pretendendo
ser razoável e coerente, busco considerar diversas perspectivas e verificar
informações desde sua origem, contexto e consequente aplicação. Esse exercício
não é simples, fácil e tampouco confortável. Trata-se de hábito complexo que exige
leitura serena, responsável, minuciosa, crítica. Pouco confortável na razão
direta em que se deve estar permanentemente alerta para investigar modelos
mentais que nos mantém suaves em nossa zona de conforto.
Procedimentos
mínimos que são necessários para enfrentar, desde questões mais comezinhas, até
temas severos e espinhosos. Debate polêmico é saudável e oportuno, mas muitas
vezes é submetido a dogmas e subvertido por ideologias radicais. A polêmica
deveria ser uma qualidade da política e deveria representar a arte de construir
uma identidade valorizando a diversidade mediante o respeito incondicional ao contraditório.
Diferente disso, cada vez mais observamos o embate como meio e fim do processo,
como a dizer, se é diferente então é contestável.
Contestação
que muitas vezes leva à consternação, quando ideias, projetos e propostas idênticos
ou, pelo menos, semelhantes são ovacionados ou ojerizados conforme a agenda do
lado que está ‘dono da bola’ em absoluto prejuízo do discernimento e, pior, do
interesse da nação. Preâmbulo oportuno para exorcizar a minha própria
consternação, diante de denúncias envolvendo o candidato que representa o
projeto político que eu avalio como mais efetivo.
Não
posso dizer que o considerasse uma vestal num estabelecimento de duvidoso
pudor, sei que não há ingênuos e que a malicia é a base dos relacionamentos, em
todos expedientes públicos do país. No entanto, o sofrível e asqueroso nível de
seus comentários, evidente em suas conversas telefônicas, devassadas por ordem
judicial, é patético.
Mais
uma vez, não quero ser puritano ou hipócrita, que pudesse ousar requisitar um reservado
e imaculado vocabulário daquele senador, logo eu que, colérico, inauguro impropérios
inimagináveis a cada pane de meus gadgtes. Para dirimir meu desalento, prefiro crer
que possa ter sido vítima de um episódio de pareidolia, talvez querendo ‘enxergar’
traços de Tancredo, em neves imundas de carreiras entorpecentes. Quereria mesmo
salvar minha consciência ao conjecturar hipóteses conspiratórias, mas seria um
desperdício de oportunidade para tentar garantir algum esboço de inteligência.
Se
eu considero canastrão, o pródigo orador que ocupa sua suíte presidencial, na
cobertura simplex de Curitiba, não é menos desgraçado este parvo e néscio, o
Aécio. Conspurcou a historiografia de sua família e trucidou sua própria biografia.
Do significado etimológico de Aécio, a águia heroica dos romanos, restou apenas
reles, a ave de rapina, em sua natureza mais visceral e eu adulto nunca me
senti tão estulto.
Frustrado,
tentava estabelecer algum parâmetro para que pudesse oferecer algum plano ou
nível de equivalência entre aqueles dois impudicos homens públicos, as citações
eloquentes que suscitei se revelaram apócrifas, nem Lenin, nem Voltaire.
Nem
Lenin teria dito “Acuse os adversários do que você faz e chame-os do que é” e
tampouco Voltaire teria declamado: “discordo do que você diz mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo"; dois sofismas recorrentes utilizados à direita e à esquerda ou para acusar ou para se escusar. À direita parece inequívoco que, quem quer que seja o autor do ditado, ele descreveria a tática de desinformação adotada pela propaganda sinistra. À esquerda, beócios gritam inocência, ratificação exagerada que faz duvidar.
Nada,
órfã a inteligência delinque, resta o império da paixão, acorrentada aos grilhões
da certeza incontornável e inflexível. Muitos novos capítulos dessa ópera bufa
irão nos iludir, mudarão apenas os protagonistas, o enredo continua, mas néscio,
o Aécio desaparece.