João W.
Galuzio
O paradoxo da
comunicação e a contaminação do ‘não senso’ são dois elementos complementares
na vitória da ignorância sobre a ciência e a consciência. Em toda evolução
humana a comunicação foi motor e combustível de grandes processos de aceleração
em nossa jornada. Motor quando estimula novas intervenções e formas de
manifestação e, combustível quanto mais conteúdo produz e cada vez mais e
melhor são gravados novos registros, de geração em geração. Se aqueles momentos
eram os primeiros tempos de nossa história registrada, hoje talvez estejamos
vislumbrando os últimos termos como escória do que poderíamos ter realizado.
O paradoxo está evidente
na relação entre o extraordinário ‘arsenal de ferramentas tecnológicas’ de
comunicação e a flagrante dizimação do diálogo como fator básico do
desenvolvimento humano. A facilidade da impressão superficial e descartável
parece prevalecer sobre a expressão do que essencial e sustentável. Blogs, sites e chats cativam e engessam opiniões
baseadas em pedaços, ou edições dos fatos, para atender a interesses submersos
e subterrâneos, estimulando um círculo tão vicioso como delicioso da nossa zona
de conforto mais primitiva e não, não restam inocentes à esquerda ou à direita
em suas utopias esquizofrênicas.
Os que pretendem
patrocinar um debate são vítimas de um ataque pelas laterais dos insanos radicais.
Como o argumento desses é apenas a repetição e a repercussão de memes com humor
e slogans perversos que desqualificam, por princípio, qualquer outro que ‘pense’
diferente, afinal quem pensa, incomoda. Os que pensam e não caem nessa
armadilha neurótica ou dramática são tratados ou como “isentões” pela direita ou
como “neutros” pela esquerda, nos dois casos de modo muito pejorativo.
Este massacre é parte
do outro elemento complementar, a contaminação da ignorância, a truculência do ‘não
senso’ como estratégia de convencimento, é a síntese do não penso, logo resisto a quaisquer dados ou informações que constranja
além do horizonte plácido e flácido. Excitado por inputs hipnóticos, que têm a
eficácia do reforço positivo, o cérebro em êxtase, elabora sinapses reducionistas
que são lambuzadas de dopamina. O delírio é avassalador.
Embriagado por
incontáveis estímulos em textos e fotos, ou numa ordem gigante de outros sinais
que, cada um deles, ao seu tempo vai sedimentando e embaçando a razão de toda
gente boa, tornando o indivíduo dependente químico de todo mensageiro cínico,
político por indecência. Esse processo bate-estaca tem o poder de higienizar a
mente livre e conturbada, lavando seu cérebro de ‘sujeiras’ como o livre arbítrio
e pensamento crítico.
Uma alternativa
para se enfrentar essa overdose passa pela abstinência dessas drogas, em silêncio,
de mente e espírito. O silêncio não é ausência de comunicação, mas um ambiente
adequado para, com a mente calma e serena processar as informações e permitir
uma reflexão mínima e ponderada. Sem reflexão as pessoas creem que suas
certezas são fruto de sua própria inteligência quando são, mais provavelmente,
lesões causadas pelo linchamento mental, moral e emocional a que foram subordinadas.
Nesses neurônios
alucinados estabelece-se o distanciamento intelectual, que afasta as mentes,
outrora brilhantes e suas ideias e as converte em sombras de ideais confusos ou
equivocados. Isolados, mentalmente falando, vamos nos afastando uns dos outros,
perdendo a indispensável consciência do tecido social diverso e complexo, até
perder o senso de nação ou, se não, vamos nos aglomerando como claque enclausurada,
até ruir feito uma nação sem noção, babel de algoritmos. Para quem possa me
achar rabugento este foi o cenário mais otimista que pude imaginar, estou
velho. Sábio ou sabido?
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