João W. Galuzio
Há um importante e sagrado fundamento
constitucional que preconiza a mais total liberdade de opinião política, a
inviolabilidade do voto. É um exercício inalienável de consciência cidadã que
não pode e não deve jamais ser devassado.
Um cidadão não pode ser constrangido
a dar satisfação, a quem quer que seja, sobre sua opção política. É um segredo
tão inviolável que nem um terapeuta, um padre confessor ou marido controlador, podem sonhar acessar.
Para nós cidadãos leigos, que não conhecemos os meandros jurídicos que balizam
este instituto, sabemos isso na prática, quando somos impedidos de fazer
registro fotográfico de nosso sufrágio individual.
Toscas teorias paranoicas querem
fazer mentes foscas crerem que o voto eletrônico não seria seguro e, para
parecerem sérios esses teóricos, ou terroristas, apresentam aqui e ali depoimentos de ‘técnicos’ que teriam
tido sucesso na invasão das urnas eletrônicas. Não há confirmação metodológica, de modo efetivo, que permitisse uma denúncia formal que levasse a cabo uma
investigação pelo STF que comprovasse tais argumentos.
Curioso que todo político diplomado
teve sua posse garantida pelo mesmo sistema que alguns deles querem
desacreditar. Então, a quem interessa esse controle externo ao sistema? Muito
mais àqueles que pretendem se eternizar no poder, criando e mantendo os seus
currais eleitorais, sejam os antigos e mal ditos ‘coronéis’ em suas sesmarias e
outros os cangaceiros das cidades grandes como milicianos, ‘donos’ de
comunidades e de movimentos sociais, além de traficantes de influência, de pessoas
e de todas as drogas.
Os votos impressos, nestes casos,
servirão de moeda de troca de favores para uns e tábua de salvação para outros,
para não serem desprezados os primeiros ou massacrados aqueles outros, onde
quase sobrevivem e o estado e as instituições democráticas não alcançam. Esse
voto, cabresto, atende exclusivamente aos poderosos das vilas, das favelas, dos
jardins ou das universidades, públicas e privadas. O cabresto não escolhe
condição social ou intelectual. Uma vez vulnerável, da chibata não escapa o abestado.
A pretexto de transparência e
segurança, sua aprovação irá promover a transferência e a governança desse
único e extraordinário poder para quem é opressor. O voto secreto nos fortalece
e nos faz todos iguais. Se não, de outro lado, o voto impresso será ‘exigido’ nos sertões, nas comunidades e nas cidades, mais ou menos frágeis. Representará o
solapamento dessa pedra fundamental do nosso edifício constitucional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário