quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Voto impresso – O voto cabresto.

                                                                                                                                   João W. Galuzio

Há um importante e sagrado fundamento constitucional que preconiza a mais total liberdade de opinião política, a inviolabilidade do voto. É um exercício inalienável de consciência cidadã que não pode e não deve jamais ser devassado.

Um cidadão não pode ser constrangido a dar satisfação, a quem quer que seja, sobre sua opção política. É um segredo tão inviolável que nem um terapeuta, um padre confessor ou marido controlador, podem sonhar acessar. Para nós cidadãos leigos, que não conhecemos os meandros jurídicos que balizam este instituto, sabemos isso na prática, quando somos impedidos de fazer registro fotográfico de nosso sufrágio individual.

Toscas teorias paranoicas querem fazer mentes foscas crerem que o voto eletrônico não seria seguro e, para parecerem sérios esses teóricos, ou terroristas, apresentam aqui e ali depoimentos de ‘técnicos’ que teriam tido sucesso na invasão das urnas eletrônicas. Não há confirmação metodológica, de modo efetivo, que permitisse uma denúncia formal que levasse a cabo uma investigação pelo STF que comprovasse tais argumentos.

Curioso que todo político diplomado teve sua posse garantida pelo mesmo sistema que alguns deles querem desacreditar. Então, a quem interessa esse controle externo ao sistema? Muito mais àqueles que pretendem se eternizar no poder, criando e mantendo os seus currais eleitorais, sejam os antigos e mal ditos ‘coronéis’ em suas sesmarias e outros os cangaceiros das cidades grandes como milicianos, ‘donos’ de comunidades e de movimentos sociais, além de traficantes de influência, de pessoas e de todas as drogas.

Os votos impressos, nestes casos, servirão de moeda de troca de favores para uns e tábua de salvação para outros, para não serem desprezados os primeiros ou massacrados aqueles outros, onde quase sobrevivem e o estado e as instituições democráticas não alcançam. Esse voto, cabresto, atende exclusivamente aos poderosos das vilas, das favelas, dos jardins ou das universidades, públicas e privadas. O cabresto não escolhe condição social ou intelectual. Uma vez vulnerável, da chibata não escapa o abestado.

A pretexto de transparência e segurança, sua aprovação irá promover a transferência e a governança desse único e extraordinário poder para quem é opressor. O voto secreto nos fortalece e nos faz todos iguais. Se não, de outro lado, o voto impresso será ‘exigido’ nos sertões, nas comunidades e nas cidades, mais ou menos frágeis. Representará o solapamento dessa pedra fundamental do nosso edifício constitucional.

 

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