quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Não estamos sozinhos ou, juntos somos mais fortes?

João Wagner Galuzio 

Nem é sutil essa distância imensa. Falando sobre equipes enfrentei esse dilema. Qual dessas frases seria mais distintiva para o 'trabalho em equipe'? Sim, as duas formas podem ser consideradas, mas me parece haver uma diferença essencial.

As duas parecem detalhar bem o trabalho em equipe, mas a primeira expressão sugere uma perspectiva primeiro sobre indivíduo e daí para o coletivo, diferente da segunda forma que dá ênfase primeiro ao grupo.

Fiquei a imaginar: Se o time como um todo está com sua autoestima baixa, demonstrar que 'não estamos sozinhos' talvez seja mais efetivo. Se, de outro lado, caso haja excesso individual de autoestima, talvez fosse razoável, ou indispensável, destacar como somos mais fortes juntos para não surgirem 'salvadores da pátria' aqueles indivíduos que solapam qualquer senso de equipe.

Se, querendo fortalecer o time, não entendermos essa variação, poderemos mais fragilizar do que agregar.

Esta reflexão quer mostrar que, para comunicar, mais do que dizer palavras é preciso entender como todos as irão interpretar.

O que você acha? Prefere não estar só ou,  prefere ser mais forte, com seus colegas?

Deixe sua opinião!





quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Não é negacionismo!

João Wagner Galuzio 

Somos todos negacionistas. Uns, bem-humorados, negam o título mundial do Palmeiras, o primeiro campeão.

Eu também nego. Não reconheço aquela imagem distorcida que insiste em me enfrentar, no reflexo do espelho. Parece comigo, só que  imenso. Tem aqueles que não percebem a maturidade dos filhos, tem filho que nega a sabedoria dos pais.

A negação é uma malandragem do nosso cérebro para nos proporcionar uma vida mansa. Idealizamos um mundo inocente onde tudo fica bem resolvido em nossa razão cartesiana. Esse negacionismo inocente pode ser natural e até saudável. 

Não! Não é negacionista quem, senhor consciente dos fatos e das consequências, insiste em enganar àqueles inocentes. Não é negacionismo quando percebemos, entendemos e interpretamos os fatos para obter vantagens. 

Negação como método, falácia por princípio,  dissimulação no argumento e malícia na intenção,  não são predicados do negacionista, mas vícios de falsários ou estelionatários e alguns, políticos populistas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

Série Acrônimos: dizeres difíceis para lembranças fáceis.

Os acrônimos são mnemônicos! 

Hein? Vou simplificar! 

As iniciais de palavras que, combinadas e lidas, letra a letra, como FGTS ou IBGE, são siglas, mas se podem ser lidas como uma nova palavra como UNESCO, SMART ou SEBRAE, são acrônimos.

Se amnésia é falta de memória, mnemônico é tudo aquilo que usamos para tornar nossa memória mais eficaz.

Aqui, eu inauguro uma série de acrônimos que são muito usados no dia-a-dia ou, no mínimo, outroa que são curiosos. Seja SMART e não perca a próxima edição que virá ASAP.


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Gente, agente transformador.

                                              Angel Soul

Anjos, nascemos comuns, como um.
Todos nós, bebês, somos anjos.
Aos poucos, nos humanizamos.

Felizes , nossa infância aflora,
o que, em nós, a natureza melhora.
Nossa consciência, nosso caráter e
descobrimos todos, quem somos.

Ah, sim. 
Adolescer, diferente, pode ser doloroso.
É preciso aquiescer, para não adoecer
nossa identidade e se permitir, florescer.

Depois de crescer, ser gente, como agente transformador, transforma dor em arrebatamento.

Consciência, Inteligência, Serenidade, é tudo e é só o que é necessário para valorizar nossa diversidade, em cada diversa idade.

Ser felizes é o que todos buscamos, só isso.


domingo, 16 de maio de 2021

Guerra fria civil no Brasil - Quem está vencendo?

João Wagner Galuzio

Era uma vez, a guerra fria, conflito internacional que durou décadas na segunda metade do Século XX envolvendo as duas maiores superpotências do planeta, os Estados Unidos da América e a, então, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Há historiadores que consideram, inclusive, que esse período e conjuntura representariam uma virtual terceira guerra mundial. 

Um temível, provável e sempre iminente confronto nuclear entre estas duas forças antagônicas e seus respectivos países satélites polarizaram um complexo sistema no campo de forças internacional. Dois impérios, uma só obsessão, prevalecer sobre todos, a despeito da liberdade e das vontades de todas gentes. 

De um lado, a URSS mobilizando países em sua área de influência na Europa do leste e parte substancial da Ásia e do Oriente Médio, enquanto financiava iniciativas socialistas em diversas repúblicas nas Américas do Sul, Central e na África. De outro lado os EUA e outras nações obedientes, como Canadá, Europa Ocidental e o Japão, se opunham ao totalitarismo comunista, nem que para isso fosse necessário viabilizar igual totalitarismo por meio de governos militares de direita. 

Muitos testes atômicos depois, a concorrência espacial e  uma extraordinária escalada armamentista acabaram por desarmar vários gatilhos para uma efetiva conflagração bélica, cujos desdobramentos poderiam levar à extinção da humanidade. Receio, medo, pânico ou pavor modularam o nível de tensão por toda parte até o esgotamento desse modelo na última década do milênio. Diziam que uma nova ordem mundial se inaugurava, balela. Vimos apenas o surgimento de um novo componente ocupando espaços deixados pelos antigos antagonistas, a China, no mais o mesmo.  

Eis que a atual conjuntura nacional não parece diferir do modelo havido durante a Guerra Fria, guardadas as proporções. De fato, talvez já tenhamos iniciado a nossa guerra fria, incivilizada, entre as nossas duas impotências (sic) democráticas que, radicais, pretendem impor sua vontade desigual, antes de compor uma sociedade plural. 

Se sustentam da cooptação de pequenos partidos vassalos, satélites dos grupos ideológicos diferentes, mas não distintos, são mesmo cínicos e obscenos. Dois blocos exclusivos entre si, uma só obsessão, prevalecer sobre todos, a despeito da liberdade e das vontades de todas gentes.

Essa nossa guerra civil é fria na forma e incandescente no conteúdo. Na forma as semelhanças estão nas armações, nos recíprocos golpes desleais, nas simulações e conchavos, no compadrio em comissões e comitês. No conteúdo, irrompem argumentos populistas de ideólogos (sic) idiotas e, ou, anacrônicos. Há aqueles que 'odeiam a classe média' enquanto uns outros, como touros enfezados, ululam 'nossa bandeira jamais será vermelha'.       

Em comum, não são unanimidade, como não reconhecem isso são megalomaníacos, tentam usurpar poderes constituídos e testam as placas tectônicas com apropriação de forças vermelhicidas (meu exército não deixará passar) ou da força de movimentos sociais (vou por o exército do MST nas ruas).  

Diversos institutos e mecanismos de pesos e contrapesos jurídicos  vão mediando nossa guerra civil, fria e insensível, adiando o fim da nossa civilidade. Receio, medo, pânico ou pavor vão alimentando o ódio e o nível de tensão por todo país. 

Quem vai vencer? Não sabemos! Podemos medir as perdas humanas, mais de quatrocentos mil em contínua progressão. Outras vítimas são tão irreparáveis como as vidas, visto que sem elas a vida não tem sentido, a educação, a cultura, a esperança e a liberdade. 




sábado, 15 de maio de 2021

Terceira via: mais civismo e menos narcisismo.

                                      João Wagner Galuzio 

Em redes sociais, por mais de uma vez me inqueriram em quem eu votaria, se não fosse no mecânico sindicalista ou no soldado nacionalista? Penso, se me permitem,  menos num nome e muito mais numa atitude, do candidato e dos cidadãos.

Minha opção, via de regra, é não votar em sujeitos que se apresentam como salvadores da pátria, estejam à direita ou à esquerda.

Não acredito em candidato que "joga para a galera"... que fala o que as pessoas gostam de fantasiar, para se esconderem de seus medos. Oferecem soluções fantásticas dizendo: vou resolver tudo no meu mandato... sou o melhor. Se apresentam como infalíveis.

Uai, caramba, é condição natural de ser humano, ser falível. Saber reconhecer nossos limites é meio caminho para o caráter honesto. Falar a verdade implica, inclusive (e especialmente), dizer das decisões graves e impopulares, que são indispensáveis, mas isso não dá voto...

Em nossa adolescente democracia gostamos de ouvir soluções mágicas (e simplistas) que "atendem" (#SQN) nossos desejos mais mesquinhos e, iludidos mantemos nossa mente em uma zona de conforto com falácias ou nacionalistas, ou socialistas. 

Duas utopias ingênuas, próprias de quem é imaturo emocionalmente, a primeira porque é xenófoba e odeia a diversidade, a segunda porque, querendo a diversidade, patrocina um tratamento único para todos, confrontando classes e coletivos, essencialmente diferentes entre si.

As duas não admitem a liberdade, o nacionalismo só reconhece "a fala" dos que pensam igual, enquanto a outra utopia quer impor aquele tratamento isonômico, mas odeia o debate quando fraciona os cidadãos por "lugar de fala"...

Lembrando que nacionalismo não é patriotismo. Hitler, Mussolini e Trump são alguns estandartes do nacionalismo burro e egoísta.

Outro aspecto grave da nossa ingênua democracia é essa necessidade de indicarmos um certo 'quem' ... nosso sistema político não está estruturado em ideologias e, ou, propostas de nação com partidos fracos e frouxos.

Prevalecem os indivíduos acima dos partidos que parecem menos agremiações ideológicas e se parecem muito mais com franquias mercadológicas: 

O que você quer? Faça seu pedido! Emprego? Nossa franquia é a melhor, até o nome da marca envolve trabalho.

Ah você quer educação? Nossa marca é especialista em adestramento moral.

Essas 'franquias' não têm líderes partidários, mas donos que se comportam como 'reizinhos' desde as capitanias hereditárias.  Não há desenvolvimento de novas lideranças, inauguram dinastias.

Esse modelo é ao mesmo tempo causa e efeito da miopia estrábica de eleitores que, ora nos comportamos como clientes dessas franquias (partidos), ora como torcedores.
Mais ou menos engajados (os clientes) ou mais ou menos fanáticos (os torcedores).

sábado, 17 de abril de 2021

Não acredite na ciência, entenda-a! Fé é da natureza das religiões.

 João Wagner Galuzio

Trocando uns dedos de prosa com meu irmão José Roberto, tentávamos entender como que, considerando os argumentos escabrosos e bizarros multiplicados todos os dias por negacionistas, pessoas inteligentes e razoáveis, ainda resistem a acreditar na ciência no que se refere ao enfrentamento da Covid-19. Neste instante, não me caiu uma ficha, mas um orelhão1 inteiro despencou sobre mim. Percebi que estamos jogando o jogo dos fanáticos, dos fundamentalistas, ou políticos, de quaisquer partidos, ou religiosos de qualquer denominação.  Os que são fanáticos odeiam a razão e, obsessivos, vivem em constante exaltação. São estimulados pela paixão ou afetados pelo medo, sempre irracionais.

Sem juízo de valor, crente como eu sou penso que seja oportuno lembrar ou entender algumas sutilezas. Acreditar é a manifestação da fé incondicional, da doce e mansa obediência a dogmas e certezas inexplicáveis e aquele que acredita não busca o saber, a fé lhe é bastante suficiente. A ciência ou, o conhecimento, muito diferente disso, não se sustenta pela crença ou pela fé. Duvidar é a manifestação da humildade indispensável da mente inquieta e sedenta por aprender. A certeza, estática e imutável, é a falência da ciência, pois o próprio conhecimento é, essencialmente, dinâmico e movediço. Não acredite na ciência, entenda-a!

Uma das estratégias para se impor uma certeza é a interrupção constante da voz daqueles que desejem apresentar uma hipótese alternativa. Não permitem que algum argumento diferente, mais ou menos coerente, seja considerado. Nenhuma frase, por menor que seja, encontra oportunidade de ser elaborada. O único modo em que os fanáticos operam, para controlar a cena é o passional, deslocando seus noviços para o nível primitivo, mantendo-os ora com medo, dizendo, por exemplo -“Nossa bandeira jamais será vermelha” e, ou, como remédio para elevar a autoestima uma simulação de patriotismo – “O Brasil acima de tudo...” Mais uma vez eu preciso ratificar: o fanatismo não escolhe orientação política ou religiosa. Há fanáticos que acreditam serem proprietários exclusivos da ética (autoestima) e odeiam a classe média patrocinando o medo ou ódio das elites (sic).

Não faz sentido sugerirmos aos fanáticos para que acreditem na ciência, seria como pedir que alguém, intrínseca e radicalmente, subordinado a uma fantasia ou alegoria pudesse adotar a ciência como se fora outra religião.  Que acreditem, com entusiasmo, no que quiserem, mas entendam que a ciência, complexa e sutil, generosa e flexível, trabalha objetivamente no nível racional, sem afetações. Impossível não extrapolar a carta de São Paulo aos Coríntios, em seu décimo terceiro capítulo.

O amor é paciente, é benfazejo; não é invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso, não é interesseiro, não se encoleriza e não se alegra com a injustiça, mas fica alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo.

Assim como o amor é a ciência. Sem amor, a ciência se esvanece, mas com as suas virtudes é sensível, nunca radical. Não funciona com ódio, nem medo, não se prevalece.

Extremistas, nacionalistas ou populistas, como forma de manipulação, usam o sentimento de insegurança, de fragilidade e de vitimização para semear o medo. Instalado o medo, se apresentam como estandartes da autoestima virtuosa, necessidade de todos bons cidadãos que, ingênuos, se identificam e repercutem menos como robôs, e mais como tratores, aqueles rolo-compressores, com  discurso imperador e imperativo. Xenófobos, para manterem sua zona de conforto, usam da velocidade e da intensidade de seus ataques para, invertendo o sentido e significado dos diálogos calar os que pensam diferente.

Não é improvável que você conheça a frase apócrifa “Sempre acuse seus adversários do que é verdadeiro sobre você mesmo.” Algumas vezes atribuída a Lênin -sem evidências- esta sentença é bastante utilizada pela direita para denunciar eventual desvio de caráter da esquerda. De novo, de autor desconhecido, a frase parece se aplicar aos dois extremos políticos que têm, como traço comum, o mau-caratismo. Parece ser o modus operandi de todo aquele que pretende semear ódio e cizânia. Steve Bannon, por exemplo, ensina estratégia semelhante quando orienta algo como: ‘Ocupe a mídia e domine a pauta, nem que seja necessário dizer absurdos, mas não dê espaço para o discernimento ou razão.’

A quantidade extraordinária de mensagens com fake news, que se sucedem em poucos minutos, todos os dias, faz parte dessa estratégia passional. Essa avalanche de falácias não dá tempo para que se possa processar qualquer informação. Uma vez doutrinado, o sujeito irá objetar tudo que os outros possam querer lhe apresentar como argumentos alternativos. Ofuscado, mesmo desejando ser inteligente e sensato, será envolvido, novamente, uma bola de neve de mais noticias falaciosas que irão representar um reforço positivo aos seus dogmas ou estimulando sua autoestima ou afetando sua memória afetiva com bastante medo. Está posto o círculo vicioso do medo e autoestima. A ciência? É estratégia do inimigo! Professores? Que sejam desmoralizados. Idiotas? Se cumplices, que sejam tratados como renomados especialistas, para que simulem uma ciência carismática e medieval, para que todos convertidos nela acreditem. 



1 Para os muito jovens, ‘orelhão’ era um equipamento telefônico público, disponível nas ruas, cujo  formato se assemelhava vagamente ao nosso pavilhão auricular. Como se fosse uma cabine telefônica, onde usávamos fichas que, por vezes, se não ‘caiam’ não completavam a ligação.

segunda-feira, 29 de março de 2021

Visão sistêmica e miopia sistemática - uma questão de ótica!

João Wagner Galuzio

Certa vez, depois de eu descrever a importância da visão sistêmica como competência diferencial para o exercício cidadão e profissional, um aluno me trouxe, na aula seguinte, seu currículo onde já havia adicionado essa virtude entre suas qualificações. Expliquei, por óbvio, que no currículo devemos apresentar tudo aquilo que podemos demonstrar suficiência ou experiência. Propus um desafio para que pudesse demonstrar essa capacidade e lhe pedi que fizesse uma análise da, então recente, crise financeira internacional decorrente dos eventos relativos aos títulos sub prime que devastou a economia por todo o planeta no final da primeira década do século 21. Ligeiro, ele respondeu: “É uma crise, é financeira e é internacional!”

Naturalmente tive oportunidade de orientar o noviço sobre como parecia singela sua resposta e apresentei alguns elementos que, no meu também modesto entendimento, pareciam ser ingredientes de uma visão sistêmica como as habilidades de observar e perceber a dinâmica, a velocidade e a intensidade ao longo do tempo e, simultaneamente, reconhecer a extensão e a repercussão no espaço ou ambiente relativo aos eventos intrínsecos a aquela crise.

Apesar de 10 anos passados, penso que cada vez mais seja necessário refletir nestes tempos em que redes sociais se tornaram tribunais, muitos blogs pretendem ser agência de notícias e indivíduos que, de cidadãos conscientes, se converteram em aglomerados radicais, cujas opiniões são determinadas por algum tutor ou mecanismo virtual. Como isso pode acontecer? Eu, cândido e poliano, vou tripudiar uma hipótese, primária, mas plausível.

Para contextualizar vou buscar algumas referências ancestrais relativas ao desenvolvimento de nosso jeito homo sapiens de entender o mundo. O nosso córtex pré-frontal é um dos componentes mais sofisticados do nosso cérebro e capaz de observar, comparar, associar, elaborar e processar raciocínios complexos. No entanto, esse processador fenomenal talvez esteja perdendo protagonismo para os nossos cérebros límbico e reptiliano, que alternam soluções excludentes entre si: bater ou correr, lutar ou fugir, enfrentar ou se esconder. Parece que nunca foi tão fácil (e delicioso) criticar ou, como se convencionou dizer mais recentemente, ‘cancelar’ o outro. Não concordamos com o que nem entendemos e então criticamos ou, se impotentes para criticar, tratamos como descartável e desprezível a opinião do outro, simplesmente lhe atribuindo com sarcasmo qualquer predicado ou adjetivo infeliz.

Otimista compulsivo, eu pensava que este retrocesso fosse de apenas algumas poucas décadas, mas agora percebo que o gatilho da polarização nos transporta, na melhor das hipóteses, à idade média e, na pior das hipóteses, à idade da pedra lascada. A conveniência da mentalidade medieval nos trazia conforto quando enxergávamos o sol em torno da terra, dogma que parecia óbvio no tempo das trevas. Antes, como nômades sapiens, temíamos a luz além das cavernas, valei-me Platão. Esse enxergava muito! Essa polarização atual patrocina o linchamento dos que se alternam e se altercam em cavernas vizinhas, mas opostas.

O que é sombra para um é luz para o outro e vice versa. Ofende a todos os entrevados atrever-se tentar enxergar além de sombras no cafofo da caverna, zona de conforto de cérebros cujos neurônios parecem satisfeitos encharcados de dopamina, uma lente química para recompensar nossas certezas. O método de linchamento varia conforme o buraco em que se meteram. Para os ermitões à direita, pensamento crítico faz do iluminado um ‘isentão’ ou omisso, para os que se acham progressistas na caverna à esquerda, ter comportamento ou consciência diferente, o torna um burguês, classe média. Para os que estão em cavernas, não interessa a razão, apenas a desmoralização. Para manterem a ordem unida uns, surdos, berram slogans e gritos de guerra, enquanto do outro lado, alguns punhados gritam e repetem citações como se decreto, certeza ou verdade absoluta fossem.

Hoje, para viver e crescer numa sociedade complexa e dinâmica impõe-se, como elementar, a necessidade de se perceber, observar e aprender os movimentos mais ou menos velozes e as tensas e intensas mudanças ao logo do tempo; e, mais ou menos abrangentes e extensas no espaço. Parâmetros elementares que representam a base da visão sistêmica. Se não, de outro modo, míopes, vamos perceber e observar quaisquer fenômenos de um jeito embaçado e, ou, editados e afetados por lentes distorcidas, provocando o astigmatismo ideológico.

Perceber e observar fotos e memes, alguns divertidos - é verdade-, outros ‘ingênuos’, para se entender as engrenagens de como se dá a evolução política de uma sociedade, a relação entre os poderes, as implicações jurídicas e as sutilezas culturais representa uma sistemática miopia intelectual. Para ficar na metáfora oftalmológica é como ignorar um grave escotoma, para enxergarmos apenas o que podemos ou queremos. Um escotoma pode ser natural, o ponto cego lateral de nossa vista ou, se patológico, é a perda, menor ou maior, de parte do campo visual resultado de uma lesão na retina. Por analogia, também se diz escotoma a nossa fixação em um único e estreito foco na observação ou análise de qualquer evento, versus um universo de detalhes em perspectiva. Enxergamos apenas o paradigma mais confortável como arma para lutar ou ferramenta para fugir do que não sabemos.

Negação, distorção e generalização são algumas das lentes mais fáceis para fazer nossa miopia parecer ‘supervisão’ sistêmica. Prevalece o domínio do método indutivo para se entender o todo a partir de algum mínimo substrato do objeto. Esse método de se compor o contexto não tem nada de errado em si mesmo, a encrenca se dá quando escolhemos e determinamos apenas uma fração para formar inteiros deformados. Essa edição, muitas vezes, nos faz chapar todas as sutilezas como intensidade e extensão, no tempo e no espaço, como se tudo estivesse na mesma proporção.

Um evento, dado ou informação numa dimensão primitiva, em março de 2020 divulgada no sertão da ciência subordinada a todo tipo fundamentalismo ideológico é usado para comparar com uma avaliação sofisticada, complexa e multifacetada produzida em laboratórios teóricos submetidos a todos rigores metodológicos. Faz-se um recorte, pode ser um post bobo, para ‘julgar’ um relatório ou estudo envolvendo o estado-da-arte em pesquisa científica. Pior, muitas vezes, aqueles ‘cientistas’ fundamentalistas usam a estrutura de apresentação de métodos para fazer parecer crível. Assim, basta chamar de científico um texto medíocre, simulacro de meta-análise, mas apenas colagem ginasial de ideias desconexas, que é divulgado numa revista desqualificada, para que ele pareça ganhar status para enfrentar teses elaboradas e amplamente testadas, corroboradas ou não. As cavernas ululam e apupam a sombra que ilumina sua miopia sistemática.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

BIDEN X trump: sobre planos e falácias

João Wagner Galuzio

Bolsonaro e Pazuello, vocês tinham até ontem, como referência, uma aberração que jamais leu um relatório de inteligência e, ou, reportes de estratégia internacional e bastante menos orientações científicas em geral e relativas à pandemia, em particular. Quase idiota, o primata chegou a sugerir a injeção intravenosa de desinfetantes, para 'curar' a doença. Diante do olhar estupefato dos que assistiam a cena, ratificou, "É sério, precisa ser estudado!" 

Disse por diversas vezes que tudo estava sob controle e que logo iria desaparecer como milagre. No final da sua campanha para se reeleger, gesticulava freneticamente movimentando a mão aberta de cima para baixo como se estivesse cortando algo, para indicar que tudo seria encerrado rapidamente. Nunca apresentou uma ação ou critério, objetivos, que justificassem suas afirmações. Tudo se resumia a predicados tão retumbantes quanto prepotentes, sobre qualquer tema, encerrava: terrific, tremendous, superb, fantastic, excellent, gorgeous etc. Fato zero, fake 100. 


Desde ontem, "inauguration day" um novo presidente se instalou na Casa Branca, e no dia seguinte de sua posse,  apresentou agora para toda a nação, um arquivo em pdf que pode ser baixado no site https://whitehouse.gov  um Plano Estratégico (200 páginas) com os 7 objetivos a serem enfrentados, a saber: 

Meta 1: Restaurar a confiança do povo americano;

Meta 2: Montar uma campanha de vacinação segura, eficaz e abrangente;

Meta 3: Mitigar a propagação expandindo o mascaramento, testes, tratamento, dados, força de trabalho e padrões claros de saúde pública.

Meta 4: Expandir imediatamente o alívio de emergência e exercer a Defesa Lei de Produção.

Meta 5: Reabrir escolas, empresas e viagens com segurança, enquanto protege os trabalhadores.

Meta 6: Proteger aqueles que estão em maior risco e promover a equidade, inclusive racial, linhas étnicas e rurais / urbanas.

Meta 7: Restaurar a liderança dos EUA globalmente e criar uma melhor preparação para ameaças futuras.

Note-se que no melhor estilo de gestão organizacional em alto nível, a última meta é, ao mesmo tempo, uma eventual primeira meta para potencial e provável crise futura. 

Então Srs. Jair e Eduardo, quando no futuro quiserem dizer de algo parecido com um plano.... considerem o Sr. Biden como referência e esqueçam aquela ameba  laranja.

Ficar dizendo que há um plano e, muito pior, dizer que o plano foi lançado sem que ninguém tivesse tido o mais tênue vislumbre do que fosse isso, com indicações risíveis como: "Vai começar no dia D, na hora H" é piada de muito mau gosto. Essa afirmação só encontra comparação na máxima da 'presidenta': "Nós não temos uma meta, mas quando alcançarmos a meta, vamos dobrar a meta."

Também não é divertido esse diversionismo de lançar balões de ensaio para confundir a nação, diante de vossa inação. Não são as forças armadas que determinam se prevalece a ditadura ou a democracia ou, a suma bravata de seu procurador geral travestido de advogado criminalista, ensaiando sobre a antessala do estado de defesa.

Em vez de factoides, considere a hipótese de trabalhar, tenho certeza de que encontrará funcionários de carreira capazes de elaborar um rascunho responsável e pragmático para, minimamente, os orientar e, quem sabe, tenham coragem e competência para seguir e compartilhar com todos. 




https://www.whitehouse.gov/wp-content/uploads/2021/01/National-Strategy-for-the-COVID-19-Response-and-Pandemic-Preparedness.pdf


Decisão do STF sobre MP 926 de 2020.


João Wagner Galuzio

STF reconhece competência concorrente de estados, DF, municípios e União no combate à Covid-19.


Para todos ingênuos inocentes uteis que repercutem uma imagem (Figura 1) de uma nota boçal de um blog afetado que sugere, como argumento, que o STF teria proibido alguma coisa ao senhor tenente, reformado capitão, eleito presidente. Seguem algumas considerações para todos nós que reconhecemos a inoperância, relativa em alguns casos e a incúria em muitos outros, do executivo federal.


Figura 1 - Relativamente a isolamento e quarentena.

Não sou advogado, mas é necessário o entendimento mínimo do vocabulário jurídico. Analisar a decisão com a interpretação de texto própria de um leigo poderá resultar confusão.

Da decisão do STF.

As disposições [na MP 926/2020] não afastam a competência concorrente nem a tomada de providências normativas e administrativas pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios.

"Para deixar claro que a União pode legislar sobre o tema, mas que o exercício desta competência deve sempre RESGUARDAR a autonomia dos demais entes." Deste modo, o governo federal pode (muito,  não proíbe nada), mas deve respeitar as competências dos outros entes, em particular as questões sanitárias de cada local.

O governo federal pretendia concentrar exclusivamente todo o poder de polícia sanitária [quando quis] interferir no regime de cooperação entre os entes federativos, pois confiava (exclusivamente) à União as prerrogativas de isolamento, quarentena, interdição de locomoção, de serviços públicos e atividades essenciais e de circulação.

A decisão do STF trata apenas dessa polícia sanitária (de novo, isolamento, interdição de locomoção, de serviços públicos e atividades essenciais e de circulação). Não trata e, portanto, NÃO PROÍBE o Governo Federal de exercer suas atribuições de gestão, coordenação e execução de planos, orçamentos para enfrentamento da pandemia.

Tanto não proíbe nada que o governo:

1.      Decidiu criar um comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19, coordenado pela Casa Civil (surpreende que não pelo ministério da Saúde);

2.      Decidiu e forneceu equipamentos necessários como ventiladores, leitos de UTI e testes e outros (sem controle houve denuncias e inquéritos de superfaturamento);

3.      Decidiu e patrocinou o auxílio emergencial para milhões (sem controle houve muitas fraudes) e políticos, empresários e até funcionários públicos teriam se beneficiado;

4.      Decidiu prescrever tratamento precoce quando já havia consenso sobre a sua ineficácia;

5.      Decidiu desqualificar as orientações médico-científicas sobre distanciamento, higiene e uso de máscaras (tema tratado pelo STF);

6.      Decidiu sabotar ações dos outros entes da federação patrocinando aglomerações em manifestações irresponsáveis (desobediência civil);

7.      Decidiu contratar e fazer produzir milhões de comprimidos de cloroquina (improbidade);

8.      Decidiu por ignorar, adiar ou retardar a logística de aquisição de insumos (agulhas e seringas) sabidamente necessários desde julho de 2020;

9.      Decidiu não entender e não atender (em julho 2020) representantes de laboratórios fabricantes de vacina enquanto o mundo já reservava várias opções em prazos e quantidades (criando dificuldades para talvez ‘vender’ alguma facilidade);

10.  Decidiu constranger a Secretaria de Saúde de Manaus, em 11 de janeiro 2021, fornecendo 120 mil comprimidos de cloroquina para que, em visitas do ministro às UBS de Manaus, fosse “difundido e adotado o tratamento precoce exigindo o uso quando, por outro lado, já era sabido o desabastecimento de oxigênio; O ofício, prova substancial de crime de responsabilidade, ressalta “a comprovação científica” da medicação, “tornando dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da situação de saúde em Manaus a não adoção da referida orientação.” Simplificando, o ministro não foi a Manaus para planejar nada, mas apenas para aplicar o golpe do falso tratamento precoce que, uma semana depois, negou peremptoriamente jamais haver sugerido (Figura 2) - Ofício nº 5/2021/SGTES/GAB/SGTES/MS;

Figura 2 - Tratamento precoce MS

11.  Decidiu não fazer convênio que depois virou protocolo de intenção, para depois mentir (SQN) que todo o dinheiro da CoronaVac (a tantas vezes maldita pelo tenente) tinha tido origem no MS para, depois de não apresentar evidência de pagamento, declarar que o valor será pago a posteriori quando a totalidade das 100 milhões de doses, forem entregues mediante emissão de nota fiscal do Instituto Butantan ao Ministério da Saúde".

12.  Decidiu muito, demais, exageradamente tarde, "quase" considerar a urgência das vacinas e começou a tratar do assunto como uma adolescente deslumbrada. Escrevendo uma 'cartinha' fofa ao primeiro ministro indiano, quando três meses antes havia prejudicado severamente os interesses daquele país. “Vacinas vão chegar em poucos dias” dizia ao fazer o pagamento antecipado (Figura 3) de um contrato que deixa explícito "prazo de entrega em ATÉ 90 dias;"

Figura 3 - Prazo de entrega 90 dias.

13.  Decidiu "lançar" o  muito desconexo porque desconhecido, anacrônico porque tardio e inviável por não indicar ao menos o início do 'Plano Nacional de Imunização' da Covid19, sem data nem hora;

Essas são algumas das decisões acertadas e outras não, deste Governo Federal QUE PRETENDEU PROIBIR Estados, municípios e DF de conduzir ações de polícia sanitária como a adoção de etiqueta de higiene, o uso de máscaras, isolamento e quarentena, mas sob esse pretexto, eximiu-se de quaisquer irresponsabilidades suas. Como três em cada quatro adultos brasileiros têm relativo analfabetismo funcional e não entendem o básico do que estão lendo, se não apenas o ululante, muito menos entendem fundamentos de juridiquês. Limitação suficiente para que interpretem como seus mentores inúteis lhes adestram.

 



sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Carros e estádios ou processadores e vacinas?

                João Wagner Galuzio 

Prezado senhor ministro especialista em logística, sugiro que observe dois leigos civis sobre o assunto.

1. O governo da Índia promoveu dias atrás uma simulação da 'campanha de vacinação' para checar se quantidades, locais e profissionais envolvidos pudessem verificar o que pode ser melhorado. Fica a dica: é uma ferramenta elementar de administração, de nome PDCA. Com certeza muitos de seus recrutas conhecem...

2. O Sr Joe Biden, outro civil, tem preparada para assinatura no dia de sua posse uma edição da "Lei de Produção de Defesa" (como se em tempos de guerra estivessem) que estabelece que a "indústria americana deve adotar como prioridade a produção de seringas e agulhas"... algo semelhante como ocorreu na segunda guerra... a população entrava com matéria prima (latas e panelas) para todas empresas fabricantes de geladeiras e outras UDs fabricassem armas, tanques e aviões.   Aqui seringas e agulhas...

Fica a dica: vocês sequestraram a fé e o idealismo nacionalista de milhões, que tal usassem essa mobilização hein...

Por último e óbvio não vou lhes atribuir as políticas industriais, baseadas em subsídios para setores específicos da economia que, primeiro a linha branca e agora os automóveis, se revelaram temerária. 

Igualmente vou apenas lembrar a bobagem que foi desperdiçar bilhões de reais num programa pseudo esportivo, quase faraônico, para receber o futebol e os jogos olímpicos de verão, em prejuízo de hospitais ou centros de saúde.

De outro lado vou lhes oferecer uma alternativa para calarem a boca de líderes europeus que 'pagam' de ambientalistas. É  claro que aqueles não são ingênuos e pretendem bastante a proteção de seus agricultores, muitos com sua ineficiência subsidiada.

Querem mesmo demonstrar alguma inteligência estratégica? 

Invistam mais em parques tecnológicos e na produção de processadores de alta performance e menos em veículos, patrocinem nossos empresários e empreendedores no desenvolvimento e  instalação de indústrias produtoras de vacinas. Temos know how, demanda e clientes vizinhos e, a leste, além oceânicos.
Parece sutil, mas não é, que entre os BRICS... Os 'RIC' sejam os grandes produtores de vacinas e nós, as vacas.  Agricultura e pecuaria merecem toda atenção seja a soja ou vocês vacas, mas o mundo competitivo joga num nível muitas vezes superior. 

É fácil chegar junto deles (#SQN)... Reformas: política, administrativa, tributária. Como? Uai, vejam sua proposta de programa de governo, se encontrarem.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

COVID 19 - Coronavac 2020 - URGENTE


João Wagner Galuzio

Agora em 12 de janeiro de 2021, soubemos,  oficialmente, que a eficácia global da vacina desenvolvida pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantan no Brasil e mais outros experimentos na Turquia e Indonésia, obteve como resultado de eficácia global 50,38%. 

O meu grifo em “oficialmente” se justifica por sabermos, desde meados de dezembro, que esses eram os números, não houve novidade ou ineditismo[1]. De fato, esse anúncio só foi adiado em virtude dos resultados diferentes obtidos na Turquia que apontou 91,25% de eficácia para a mesma vacina. Essa variação tão grande fez o laboratório Sinovac solicitar prazo adicional para verificar e, retificar ou ratificar os números, eles finalmente ratificaram os números do nosso Instituto Butantan.

Só isso, para mim, já seria suficiente para atestar a coerência e confiabilidade dos protocolos adotados pelo nosso instituto. Escândalo talvez pudesse se instalar onde o resultado foi muito superior, afinal, os noventa e um por cento se confirmaram ou não?

Duas hipóteses principais remanescem: A) Os resultados são diferentes mesmo, em boa parte em virtude do perfil dos voluntários que participaram dos estudos ou; B) Talvez os resultados por lá que devessem ser auditados, sem entrar no mérito de eventual influência política do autoritário poder central que ali prevalece.

Nem vou me estender com o presidente-tenente-jacaré, certo que estou de que sua fingida ignorância atende a um único objetivo, manter o adestramento de seus lagartinhos. Imputável, ele será devidamente responsabilizado pela história como desqualificado que é para assumir responsabilidades à altura de seu cargo.

Por outro lado, me aborreço com a manipulação frouxa da comunicação trouxa que fez uso marqueteiro da ciência séria. Tivéssemos realizado os resultados naquele momento e formalizado desde lá o uso emergencial, poderíamos estar sendo vacinados desde o natal passado mantendo-nos como referência mundial de imunização. Não faltava urgência e nos sobrava experiência para iniciarmos a vacinação.

O que dizer de políticos e eleitores ingênuos que “celebram” o suicídio de um voluntário durante a fase de testes e fazem estardalhaço com estatísticas que não entendem? Não somassem mais de 200 mil fatalidades seriam apenas anedota, como os números são implacáveis, excederam todas as quotas. Esse jacaré é coerente ao menos na sandice, assim como faz sua cruel e indefensável apologia à tortura, espreme os números até que confessem o que lhe convém, assim como ele quer entender.

50 ou, 78 ou, 90% não são expressões de uma competição, mas os parâmetros necessários para se definir estratégias para se implementar um Plano Nacional de Imunização – PNI, o dia D da hora H, ficou em 2020 e ninguém percebeu.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

2024: Liz Cheney x Kamala Harris



João Wagner Galuzio

Uma vez encerrada a opção de se invocar a 25 emenda, instituto pelo qual o vice-presidente Mike Pence poderia submeter uma moção de incapacidade do Donald, vai-se levar a plenário uma votação pelo impedimento desse mau perdedor covarde.

Muitos deputados republicanos já teriam manifestado disposição de votarem pelo impedimento, para condenar o autogolpe que o criminoso tentou impor à maior república bananeira do hemisfério norte.

Senso moral? Consciência cívica? Coerência constitucional? Não creio!

O que  provavelmente estamos assistindo talvez seja a partilha do legado trumpublicano. Parecem estar esquartejando os restos insepultos do que, outrora, teria sido um partido tão conservador quanto coeso.

Durante quatro anos, apesar de desmoralizados pelo mastodonte, assistiram em silêncio às suas obscenidades inconstitucionais, foram babando e lambendo o que sobrava da lavagem fétida de suas vociferações.

Indignados, aproveitaram a conveniência de um ogro fazer o serviço sujo para obterem pequenas vantagens e até realizar uma pauta de retrocesso ao século dezoito. Por isso agora não estou convencido desse despertar do lado ruim da força.

Observo especialmente a senhora Liz Cheney, que me parece ser o estandarte dessa manobra de reposicionamento para ocupar o vácuo, ou sucata, do partido republicano. 

Posso imaginar a senhora Cheney se antecipando aos eventos para se lançar candidata à presidência dos EUA em 2024, como alternativa à provável candidata democrata Kamala Harris. 

Será, já posso vislumbrar, um duelo de gigantes, duas mulheres com força, faixa etária semelhante e grande capacidade de envolvimento e agregação. Pudera eu saber quem vencerá, uma resposta de 1 bilhão de dólares.
 

A carta do compadre nhô Jair.



João Wagner Galuzio 

Afora as cordiais e protocolares saudações no início e os votos de alta estima e consideração no final, a missiva do inocente presidente é de um amadorismo próprio de vereador federal de baixo clero que ele sempre foi. Papelzinho de quem fez ou faz tráfico de influência barata para conseguir um jeitinho que, brasileiro conhece, talvez não o Primeiro-ministro da Índia. 

Seguem-se às saudações algumas informações que a imprensa e toda a nação brasileira busca a meses, o dia D para a hora H do nosso Programa Nacional de Imunização, mas que o indiano recebeu em primeiríssima mão. Esse dia e hora já passaram e nós nem fomos avisados, considerando que ele atesta que: 

“o governo brasileiro lançou o Programa Nacional de Imunização contra a Covid-19.” 

Foi lançado é? Não me recordo da solenidade oficial com pompa e circunstância, inclusive apresentando a primeira dose aplicada. Outra informação subliminar destaca a quantidade de vacinas que o já lançado plano tem em seu arsenal visto que o vereador federal travestido de Presidente informa que: 

“entre as vacinas selecionadas pelo governo brasileiro, encontram-se aquelas da [...] da AstraZeneca [...] também produzida pelo Serum Institute of India.” 

Dito desta forma faz parecer que, como o Reino Unido que tem sete vacinas contratadas, teríamos um elenco de vacinas aquisição. O idílico continua com sua cantilena implorando que: 

“muito apreciaria poder contar com os bons ofícios [...] para antecipar o fornecimento ao Brasil” 

Claro, simulando empatia, desde que não prejudique o programa indiano. Empatia que ele pouco demonstra com o povo brasileiro. O desespero, é claro, tem o único objetivo de tentar primeiro imunizar com a vacina indiana, tanto que ele vociferou a chinesa que agora ele comprou, depois de em outubro decretar que jamais faria isso e, desperdiçarmos 3 meses para angústia e ansidade de toda a nação.


Pronto, com o comprovante de pagamento antecipado efetuado, agora veremos se o compadrio dele irá mesmo resolver, pois embora o Itamaraty alegue esperar pelo recebimento ainda em janeiro, vemos na internet o fac-simile da operação de pagamento da aquisição, indicando que o prazo de entrega é previsto para 90 dias, ou seja, meados de abril de 2021. 

Não obstante o prazo para entrega indique a condição mediante recebimento do pagamento, vê-se que a justificativa para o pagamento antecipado tem em vista que “a mercadoria está pronta, aguardando pagamento para posterior embarque.” 

Apesar da absoluta inoperância dos ministérios envolvidos, Saúde e Relações Exteriores, apesar do fogo amigo do planalto central contra toda a nação, sabotando as campanhas de prevenção e a aversão federal à alternativa Butantan, decretada em outubro pelo medíocre vassalo “trumpublicano”... eu quero muito estar errado. Não desejo outra sorte para todos nós que somos vítimas dessa bizarrice terraplanista pseudo-pentecostal negacionista que se instalou em nossa capital federal. 

Oxalá, omulu e obaluauê, nos protejam de todas doenças contagiosas e que Ganesha ilumine esses políticos, para que Krishna nos mantenha vivos nesse mundão de Brahma e nos afaste da força destrutiva de Shiva e que o Todo poderoso, acima de tudo, no final, opere o milagre, 90 dias em nove. Amém.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Vai-se ford (minúsculo deliberado).

 

Vai-se ford (minúsculo deliberado).

João Wagner Galuzio

Hoje, 11 de janeiro de 2021, a empresa Ford apresentou formalmente, ao mercado, fato relevante indicando o encerramento de todas as suas atividades produtivas no Brasil, desde já, mantendo apenas a sede administrativa para a América do Sul, seu centro tecnológico e declarou garantia de fornecimento de peças para os seus veículos. A produção será mantida e concentrada na Argentina, no Uruguai e em outros locais.

Eu entendo que seja uma decisão que irá causar muito grave e dramático impacto na vida de dezenas de milhares de funcionários diretos e indiretos, será também um ambiente nervoso para os proprietários de seus veículos que provavelmente perceberão uma rápida depreciação no valor de seus veículos usados ou seminovos. Além destas consequências importantes, no entanto, tenho algumas considerações...   

1ª) Nestes 100 anos de Brasil, a Ford fez parte de um oligopólio onde contavam apenas uns poucos players: Volkswagen, GM, Ford e, mais recentemente a FIAT a partir dos anos 1970. Período quando esse clube mandou e desmandou, como lhes aprouve, abusando de subsídios, financiamentos e facilidades como, por exemplo, o Draw Back. Esse mecanismo cambial permitiu que aquelas empresas enviassem para cá a sucata de suas plantas de veículos descontinuados em seus países de origem em condições bem vantajosas. Por décadas remeteram lucros extraordinários em detrimento do parque industrial nacional.

2ª) Com a modernização consequente aumento da competitividade do setor no mundo todo e, em particular no Brasil, com a chegada de várias outras montadoras da Europa e da Ásia, a gestão do negócio no Brasil ficou cada vez mais complexo, ainda mais e especialmente considerando a instabilidade que é essa palhaçada que virou o Mercosul;

3ª)  A hegemonia da indústria automotiva norte-americana veio se deteriorando em função da competitividade e inovação tecnológica e comercial internacional e, depois de 2008, quando a empresa se viu em maus lençóis e quase faliu naquela crise do subprime. Apenas não soçobrou por conta da intervenção salvadora do governo americano;

4ª)  Uma de suas maiores concessionárias, se não a maior parceira, vem concentrando sua estratégia no desenvolvimento da marca Chery... criando e instalação o parque fabril da CAOA/Chery com carros interessantes e competitivos; 

5ª) A FORD irá continuar com a administração e a área de desenvolvimento de novos produtos; A nota informa que os veículos FORD continuarão sendo oferecidos, aqueles produzidos na Argentina e no Uruguai e em outras praças;

6ª) Talvez seja oportuno lembrar que a Ford já vinha sem rumo no Brasil desde o início dos anos 1980 e que, depois, conseguiu uma sobrevida com a Autolatina, num acordo que se não estou enganado foi mais favorável para a empresa americana e menos para a empresa alemã.

7ª) Me parece ainda mais preocupante a recém anunciada fusão entre a FIAT e o grupo mantenedor das marcas PEUGEOT e CITROEN. Não me surpreenderá que esta fusão vá impor uma nova reestruturação global mais severa com repercussões por aqui, envolvendo mais fábricas, modelos e funcionários.

Outras duas possibilidades ainda podem decorrer... uma saudável e outra mais grave... a saudável... a Ford já estaria iniciando negociações para outras montadoras assumirem suas fábricas e parte dos funcionários. A pior notícia é que, com a Covid-19, outras montadoras possam estar avaliando suas estratégias.

Por último eu lamento, pessoalmente, que não tenhamos um Ministro das Relações Exteriores bem preparado e orientado para negócios internacionais. Decisões dessa natureza como a que a FORD tomou estão sendo engendradas a meses. Não é improvável que, enquanto o senhor Ernesto ficou fazendo beicinho para o eleito presidente americano, Joe Biden de um lado e, brincando de malmequer com a tecnologia 5G chinesa, que hoje já representa mais de 40% da infraestrutura brasileira de comunicação 4G, simultaneamente e pelas costas do governo brasileiro, a FORD estivesse em tratativas adiantadas com os nossos adversários do MERCOSUL.

Não me surpreenderia que o próprio Donald, antes de sua insurreição, tivesse privilegiado seu real amigo pessoal, o ex-presidente argentino Mauricio Macri. Não é improvável que, na conta do americano presidente pato manco e empresário desleal, tenha pesado o cálculo de seus prováveis negócios (campos de golfe e resorts) no território de nossos, mais uma vez, adversários do MERCOSUL

Como assim adversários do MERCOSUL?

Alguém tem que dizer para a Argentina, e isto vem desde o governo FHC inclusive, que um bloco econômico não é bloco hegemônico. Caramba, para não dizer obscenidades, toda vez é isso, a Argentina só leva vantagem. Humildade e reciprocidade dos ‘hermanos’, condições que são indispensáveis para qualquer casamento, relacionamento ou parceira é ZERO. Fordê, vai lá e fala para Argentina comprar os carros que ela produzir.

Produzir lá e vender aqui é fácil, seus carros não vão fazer falta nenhuma entre as inúmeras opções que temos por aqui. Quer vender aqui? Mantenha os empregos e instalações aqui, ou precisamos desenhar? Mais uma vez, querem produzir na Argentina para vender aqui? Não mesmo, na na ni na... tchau, vai-se ford (sic).

Esculachando Descartes e ensopando Lavoisier.


João Wagner Galuzio

U

ma das mentes mais prodigiosas da história da humanidade, Descartes nos proporcionou um legado incrível, o método. O pensar para o saber, esta qualidade tão fértil nunca mais foi a mesma depois dele, se pouco ou muito afetada por suas ideias.

Método é uma característica inexorável da natureza, em todo o universo, que desenvolve e segue padrões desde sempre. O homo sapiens, observador, cada vez mais foi entendendo essa dinâmica. Primeiro observando as estações, o sol, a lua, as estrelas e todas as criaturas, percebeu que tudo tem sentido e direção, tudo se sucede e constante evolução.

Renato Descartes reconheceu a importância do método como alavanca do conhecimento humano, não uma muleta e, jamais, o limite do nosso saber. Com a licença da redundância, os métodos podem representar as estratégias mais ou menos conscientes, mais ou menos elaboradas para se acelerar o nosso processo evolutivo civilizatório. Renato sonhou uma ciência maiúscula e ideal, capaz entender todos os fatos e eventos. Um sonho que, apesar de etéreo e lírico, iluminou o modo muito objetivo do aprender conhecer.

Outra mente gigante, Lavoisier, compreendendo aquelas leis (ou métodos) da natureza ‘lacrou’: “Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma” ou, como as tribos mais antigas na África já decretavam: “hatuna matata” ou, para dizer ‘sem problema’, pois no final resta o equilíbrio, o padrão prevalece, o ciclo se completa.

Em seu discurso do método, por princípio, Descartes observa que o nosso jeito de ser gente é muito sabido mas também pouco sábio. Todos nós temos a convicção de sermos donos do bom senso e pensamos que somos todos donos das nossas certezas e verdades. Na internet, os algoritmos, inocentes, levam a culpa e são criticados como responsáveis pela nossa idiotização quando, na verdade, repetem apenas os modelos operacionais de nossa inteligência cada vez mais fracional em benefício da inteligência artificial. Esse desperdício da nossa inteligência facilita e concentra ainda mais a nossa necessidade insaciável de dogmas e paradigmas.

A

 certeza é um tesão e a sua compulsão, um conjunto de múltiplos de prazeres intelectuais.  É sério! Elegante, o nosso amigo Descartes jamais seria assim literal como eu, mas em essência estou apenas parafraseando. Portanto, o problema da nossa era das incertezas, como diria Galbraith, não é a inteligência ser cada vez mais artificial, mas o artifício da ignorância que usamos como subterfúgio para o nosso delicioso e sedutor reducionismo lacrador.

Esta redução não ocorre apenas, como é mais evidente, no âmbito da coisa política ou das ciências em geral, mas é muito mais abrangente no nosso cotidiano familiar, no trabalho e nas relações comerciais. Maltratamos nossos gigantes quando generalizamos e banalizamos nossos relacionamentos. Trucidamos o legado deles quando distorcemos dados e resultados, relatórios e balanços para realizar lucros que escondem malfeitos onde ou pouco se perde ou pouco se ganha, mas no fim tudo se transforma, em bônus.

P

or último e talvez mais grave, desprezamos a indispensável consciência da complexidade humana e, ao mesmo tempo, a unicidade das coisas vivas ou não, das coisas importantes ou irrelevantes, ou não e, para ‘caetanear’ ainda um pouco mais negamos o que não é espelho. Negamos a nossa própria inteligência quando nem sequer percebemos o estado das coisas e muito menos ainda, quando odiamos a perspectiva do diferente.

A vaidade da inteligência do nosso supremo bom senso, tudo solapa, numa sopa creme de ideias rasas, frases prontas, memes maliciosos, slogans hilários, julgamentos sarcásticos e adjetivos cruéis que tem a eficácia de negar Lavoisier e transforma tudo em nada.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Voto impresso – O voto cabresto.

                                                                                                                                   João W. Galuzio

Há um importante e sagrado fundamento constitucional que preconiza a mais total liberdade de opinião política, a inviolabilidade do voto. É um exercício inalienável de consciência cidadã que não pode e não deve jamais ser devassado.

Um cidadão não pode ser constrangido a dar satisfação, a quem quer que seja, sobre sua opção política. É um segredo tão inviolável que nem um terapeuta, um padre confessor ou marido controlador, podem sonhar acessar. Para nós cidadãos leigos, que não conhecemos os meandros jurídicos que balizam este instituto, sabemos isso na prática, quando somos impedidos de fazer registro fotográfico de nosso sufrágio individual.

Toscas teorias paranoicas querem fazer mentes foscas crerem que o voto eletrônico não seria seguro e, para parecerem sérios esses teóricos, ou terroristas, apresentam aqui e ali depoimentos de ‘técnicos’ que teriam tido sucesso na invasão das urnas eletrônicas. Não há confirmação metodológica, de modo efetivo, que permitisse uma denúncia formal que levasse a cabo uma investigação pelo STF que comprovasse tais argumentos.

Curioso que todo político diplomado teve sua posse garantida pelo mesmo sistema que alguns deles querem desacreditar. Então, a quem interessa esse controle externo ao sistema? Muito mais àqueles que pretendem se eternizar no poder, criando e mantendo os seus currais eleitorais, sejam os antigos e mal ditos ‘coronéis’ em suas sesmarias e outros os cangaceiros das cidades grandes como milicianos, ‘donos’ de comunidades e de movimentos sociais, além de traficantes de influência, de pessoas e de todas as drogas.

Os votos impressos, nestes casos, servirão de moeda de troca de favores para uns e tábua de salvação para outros, para não serem desprezados os primeiros ou massacrados aqueles outros, onde quase sobrevivem e o estado e as instituições democráticas não alcançam. Esse voto, cabresto, atende exclusivamente aos poderosos das vilas, das favelas, dos jardins ou das universidades, públicas e privadas. O cabresto não escolhe condição social ou intelectual. Uma vez vulnerável, da chibata não escapa o abestado.

A pretexto de transparência e segurança, sua aprovação irá promover a transferência e a governança desse único e extraordinário poder para quem é opressor. O voto secreto nos fortalece e nos faz todos iguais. Se não, de outro lado, o voto impresso será ‘exigido’ nos sertões, nas comunidades e nas cidades, mais ou menos frágeis. Representará o solapamento dessa pedra fundamental do nosso edifício constitucional.

 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Nação sem noção.

João W. Galuzio

O paradoxo da comunicação e a contaminação do ‘não senso’ são dois elementos complementares na vitória da ignorância sobre a ciência e a consciência. Em toda evolução humana a comunicação foi motor e combustível de grandes processos de aceleração em nossa jornada. Motor quando estimula novas intervenções e formas de manifestação e, combustível quanto mais conteúdo produz e cada vez mais e melhor são gravados novos registros, de geração em geração. Se aqueles momentos eram os primeiros tempos de nossa história registrada, hoje talvez estejamos vislumbrando os últimos termos como escória do que poderíamos ter realizado.

O paradoxo está evidente na relação entre o extraordinário ‘arsenal de ferramentas tecnológicas’ de comunicação e a flagrante dizimação do diálogo como fator básico do desenvolvimento humano. A facilidade da impressão superficial e descartável parece prevalecer sobre a expressão do que essencial e sustentável.  Blogs, sites e chats cativam e engessam opiniões baseadas em pedaços, ou edições dos fatos, para atender a interesses submersos e subterrâneos, estimulando um círculo tão vicioso como delicioso da nossa zona de conforto mais primitiva e não, não restam inocentes à esquerda ou à direita em suas utopias esquizofrênicas.

Os que pretendem patrocinar um debate são vítimas de um ataque pelas laterais dos insanos radicais. Como o argumento desses é apenas a repetição e a repercussão de memes com humor e slogans perversos que desqualificam, por princípio, qualquer outro que ‘pense’ diferente, afinal quem pensa, incomoda. Os que pensam e não caem nessa armadilha neurótica ou dramática são tratados ou como “isentões” pela direita ou como “neutros” pela esquerda, nos dois casos de modo muito pejorativo.

Este massacre é parte do outro elemento complementar, a contaminação da ignorância, a truculência do ‘não senso’ como estratégia de convencimento, é a síntese do não penso, logo resisto a quaisquer dados ou informações que constranja além do horizonte plácido e flácido. Excitado por inputs hipnóticos, que têm a eficácia do reforço positivo, o cérebro em êxtase, elabora sinapses reducionistas que são lambuzadas de dopamina. O delírio é avassalador.

Embriagado por incontáveis estímulos em textos e fotos, ou numa ordem gigante de outros sinais que, cada um deles, ao seu tempo vai sedimentando e embaçando a razão de toda gente boa, tornando o indivíduo dependente químico de todo mensageiro cínico, político por indecência. Esse processo bate-estaca tem o poder de higienizar a mente livre e conturbada, lavando seu cérebro de ‘sujeiras’ como o livre arbítrio e pensamento crítico.

Uma alternativa para se enfrentar essa overdose passa pela abstinência dessas drogas, em silêncio, de mente e espírito. O silêncio não é ausência de comunicação, mas um ambiente adequado para, com a mente calma e serena processar as informações e permitir uma reflexão mínima e ponderada. Sem reflexão as pessoas creem que suas certezas são fruto de sua própria inteligência quando são, mais provavelmente, lesões causadas pelo linchamento mental, moral e emocional a que foram subordinadas.

Nesses neurônios alucinados estabelece-se o distanciamento intelectual, que afasta as mentes, outrora brilhantes e suas ideias e as converte em sombras de ideais confusos ou equivocados. Isolados, mentalmente falando, vamos nos afastando uns dos outros, perdendo a indispensável consciência do tecido social diverso e complexo, até perder o senso de nação ou, se não, vamos nos aglomerando como claque enclausurada, até ruir feito uma nação sem noção, babel de algoritmos. Para quem possa me achar rabugento este foi o cenário mais otimista que pude imaginar, estou velho. Sábio ou sabido?