Idealista e otimista, vou registrando minhas percepções, imperfeitas, mas sinceras. O registro de minhas considerações me proporciona uma oportunidade de manter a memória de minhas reflexões.
quarta-feira, 27 de outubro de 2021
Não estamos sozinhos ou, juntos somos mais fortes?
quarta-feira, 20 de outubro de 2021
Não é negacionismo!
quinta-feira, 14 de outubro de 2021
Série Acrônimos: dizeres difíceis para lembranças fáceis.
sexta-feira, 8 de outubro de 2021
Gente, agente transformador.
domingo, 16 de maio de 2021
Guerra fria civil no Brasil - Quem está vencendo?
sábado, 15 de maio de 2021
Terceira via: mais civismo e menos narcisismo.
sábado, 17 de abril de 2021
Não acredite na ciência, entenda-a! Fé é da natureza das religiões.
João Wagner Galuzio
Trocando uns dedos de prosa com
meu irmão José Roberto, tentávamos entender como que, considerando os argumentos
escabrosos e bizarros multiplicados todos os dias por negacionistas, pessoas inteligentes
e razoáveis, ainda resistem a acreditar na ciência no que se refere ao enfrentamento
da Covid-19. Neste instante, não me caiu uma ficha, mas um orelhão1 inteiro
despencou sobre mim. Percebi que estamos jogando o jogo dos fanáticos, dos
fundamentalistas, ou políticos, de quaisquer partidos, ou religiosos de qualquer
denominação. Os que são fanáticos odeiam
a razão e, obsessivos, vivem em constante exaltação. São estimulados pela paixão
ou afetados pelo medo, sempre irracionais.
Sem juízo de valor, crente como eu
sou penso que seja oportuno lembrar ou entender algumas sutilezas. Acreditar é a
manifestação da fé incondicional, da doce e mansa obediência a dogmas e
certezas inexplicáveis e aquele que acredita não busca o saber, a fé lhe é bastante
suficiente. A ciência ou, o conhecimento, muito diferente disso, não se sustenta
pela crença ou pela fé. Duvidar é a manifestação da humildade indispensável da mente
inquieta e sedenta por aprender. A certeza, estática e imutável, é a falência da
ciência, pois o próprio conhecimento é, essencialmente, dinâmico e movediço.
Não acredite na ciência, entenda-a!
Uma das estratégias para se impor
uma certeza é a interrupção constante da voz daqueles que desejem apresentar uma
hipótese alternativa. Não permitem que algum argumento diferente, mais ou menos
coerente, seja considerado. Nenhuma frase, por menor que seja, encontra
oportunidade de ser elaborada. O único modo em que os fanáticos operam, para
controlar a cena é o passional, deslocando seus noviços para o nível primitivo,
mantendo-os ora com medo, dizendo, por exemplo -“Nossa bandeira jamais será
vermelha” e, ou, como remédio para elevar a autoestima uma simulação de
patriotismo – “O Brasil acima de tudo...” Mais uma vez eu preciso ratificar: o fanatismo
não escolhe orientação política ou religiosa. Há fanáticos que acreditam serem
proprietários exclusivos da ética (autoestima) e odeiam a classe média
patrocinando o medo ou ódio das elites (sic).
Não faz sentido sugerirmos aos
fanáticos para que acreditem na ciência, seria como pedir que alguém, intrínseca
e radicalmente, subordinado a uma fantasia ou alegoria pudesse adotar a ciência
como se fora outra religião. Que
acreditem, com entusiasmo, no que quiserem, mas entendam que a ciência,
complexa e sutil, generosa e flexível, trabalha objetivamente no nível racional,
sem afetações. Impossível não extrapolar a carta de São Paulo aos Coríntios, em
seu décimo terceiro capítulo.
“O amor é paciente, é benfazejo; não é
invejoso, não é presunçoso nem se incha de orgulho; não faz nada de vergonhoso,
não é interesseiro, não se encoleriza e não se alegra com a injustiça, mas fica
alegre com a verdade. Ele desculpa tudo, crê tudo, espera tudo, suporta tudo.”
Assim como o amor é a ciência. Sem
amor, a ciência se esvanece, mas com as suas virtudes é sensível, nunca
radical. Não funciona com ódio, nem medo, não se prevalece.
Extremistas, nacionalistas ou
populistas, como forma de manipulação, usam o sentimento de insegurança, de fragilidade
e de vitimização para semear o medo. Instalado o medo, se apresentam como
estandartes da autoestima virtuosa, necessidade de todos bons cidadãos que,
ingênuos, se identificam e repercutem menos como robôs, e mais como tratores, aqueles
rolo-compressores, com discurso imperador e imperativo. Xenófobos, para manterem sua
zona de conforto, usam da velocidade e da intensidade de seus ataques para,
invertendo o sentido e significado dos diálogos calar os que pensam diferente.
Não é improvável que você conheça
a frase apócrifa “Sempre acuse seus adversários do que é verdadeiro sobre você
mesmo.” Algumas vezes atribuída a Lênin -sem evidências- esta sentença é
bastante utilizada pela direita para denunciar eventual desvio de caráter da
esquerda. De novo, de autor desconhecido, a frase parece se aplicar aos dois
extremos políticos que têm, como traço comum, o mau-caratismo. Parece ser o
modus operandi de todo aquele que pretende semear ódio e cizânia. Steve Bannon,
por exemplo, ensina estratégia semelhante quando orienta algo como: ‘Ocupe a
mídia e domine a pauta, nem que seja necessário dizer absurdos, mas não dê
espaço para o discernimento ou razão.’
1 Para os muito jovens, ‘orelhão’ era um equipamento telefônico público, disponível nas ruas, cujo formato se
assemelhava vagamente ao nosso pavilhão auricular. Como se fosse uma cabine
telefônica, onde usávamos fichas que, por vezes, se não ‘caiam’ não completavam
a ligação.
segunda-feira, 29 de março de 2021
Visão sistêmica e miopia sistemática - uma questão de ótica!
João Wagner Galuzio
Certa vez, depois de eu descrever
a importância da visão sistêmica como competência diferencial para o exercício
cidadão e profissional, um aluno me trouxe, na aula seguinte, seu currículo onde
já havia adicionado essa virtude entre suas qualificações. Expliquei, por
óbvio, que no currículo devemos apresentar tudo aquilo que podemos demonstrar
suficiência ou experiência. Propus um desafio para que pudesse demonstrar essa
capacidade e lhe pedi que fizesse uma análise da, então recente, crise
financeira internacional decorrente dos eventos relativos aos títulos sub prime
que devastou a economia por todo o planeta no final da primeira década do
século 21. Ligeiro, ele respondeu: “É uma crise, é financeira e é internacional!”
Naturalmente tive oportunidade de
orientar o noviço sobre como parecia singela sua resposta e apresentei alguns
elementos que, no meu também modesto entendimento, pareciam ser ingredientes de
uma visão sistêmica como as habilidades de observar e perceber a dinâmica, a velocidade
e a intensidade ao longo do tempo e, simultaneamente, reconhecer a extensão e a
repercussão no espaço ou ambiente relativo aos eventos intrínsecos a aquela
crise.
Apesar de 10 anos passados, penso
que cada vez mais seja necessário refletir nestes tempos em que redes sociais
se tornaram tribunais, muitos blogs pretendem ser agência de notícias e
indivíduos que, de cidadãos conscientes, se converteram em aglomerados
radicais, cujas opiniões são determinadas por algum tutor ou mecanismo virtual.
Como isso pode acontecer? Eu, cândido e poliano, vou tripudiar uma hipótese,
primária, mas plausível.
Para contextualizar vou buscar
algumas referências ancestrais relativas ao desenvolvimento de nosso jeito homo
sapiens de entender o mundo. O nosso córtex pré-frontal é um dos componentes
mais sofisticados do nosso cérebro e capaz de observar, comparar, associar,
elaborar e processar raciocínios complexos. No entanto, esse processador fenomenal
talvez esteja perdendo protagonismo para os nossos cérebros límbico e reptiliano,
que alternam soluções excludentes entre si: bater ou correr, lutar ou fugir,
enfrentar ou se esconder. Parece que nunca foi tão fácil (e delicioso) criticar
ou, como se convencionou dizer mais recentemente, ‘cancelar’ o outro. Não concordamos
com o que nem entendemos e então criticamos ou, se impotentes para criticar,
tratamos como descartável e desprezível a opinião do outro, simplesmente lhe
atribuindo com sarcasmo qualquer predicado ou adjetivo infeliz.
Otimista compulsivo, eu pensava
que este retrocesso fosse de apenas algumas poucas décadas, mas agora percebo
que o gatilho da polarização nos transporta, na melhor das hipóteses, à idade
média e, na pior das hipóteses, à idade da pedra lascada. A conveniência da
mentalidade medieval nos trazia conforto quando enxergávamos o sol em torno da
terra, dogma que parecia óbvio no tempo das trevas. Antes, como nômades
sapiens, temíamos a luz além das cavernas, valei-me Platão. Esse enxergava
muito! Essa polarização atual patrocina o linchamento dos que se alternam e se
altercam em cavernas vizinhas, mas opostas.
O que é sombra para um é luz para
o outro e vice versa. Ofende a todos os entrevados atrever-se tentar enxergar
além de sombras no cafofo da caverna, zona de conforto de cérebros cujos
neurônios parecem satisfeitos encharcados de dopamina, uma lente química para
recompensar nossas certezas. O método de linchamento varia conforme o buraco em
que se meteram. Para os ermitões à direita, pensamento crítico faz do iluminado
um ‘isentão’ ou omisso, para os que se acham progressistas na caverna à
esquerda, ter comportamento ou consciência diferente, o torna um burguês, classe
média. Para os que estão em cavernas, não interessa a razão, apenas a
desmoralização. Para manterem a ordem unida uns, surdos, berram slogans e
gritos de guerra, enquanto do outro lado, alguns punhados gritam e repetem citações
como se decreto, certeza ou verdade absoluta fossem.
Hoje, para viver e crescer numa
sociedade complexa e dinâmica impõe-se, como elementar, a necessidade de se
perceber, observar e aprender os movimentos mais ou menos velozes e as tensas e
intensas mudanças ao logo do tempo; e, mais ou menos abrangentes e extensas no
espaço. Parâmetros elementares que representam a base da visão sistêmica. Se
não, de outro modo, míopes, vamos perceber e observar quaisquer fenômenos de um
jeito embaçado e, ou, editados e afetados por lentes distorcidas, provocando o
astigmatismo ideológico.
Perceber e observar fotos e
memes, alguns divertidos - é verdade-, outros ‘ingênuos’, para se entender as
engrenagens de como se dá a evolução política de uma sociedade, a relação entre
os poderes, as implicações jurídicas e as sutilezas culturais representa uma
sistemática miopia intelectual. Para ficar na metáfora oftalmológica é como
ignorar um grave escotoma, para enxergarmos apenas o que podemos ou queremos. Um
escotoma pode ser natural, o ponto cego lateral de nossa vista ou, se patológico,
é a perda, menor ou maior, de parte do campo visual resultado de uma lesão na
retina. Por analogia, também se diz escotoma a nossa fixação em um único e
estreito foco na observação ou análise de qualquer evento, versus um universo
de detalhes em perspectiva. Enxergamos apenas o paradigma mais confortável como
arma para lutar ou ferramenta para fugir do que não sabemos.
Negação, distorção e
generalização são algumas das lentes mais fáceis para fazer nossa miopia
parecer ‘supervisão’ sistêmica. Prevalece o domínio do método indutivo para se
entender o todo a partir de algum mínimo substrato do objeto. Esse método de se
compor o contexto não tem nada de errado em si mesmo, a encrenca se dá quando
escolhemos e determinamos apenas uma fração para formar inteiros deformados.
Essa edição, muitas vezes, nos faz chapar todas as sutilezas como intensidade e
extensão, no tempo e no espaço, como se tudo estivesse na mesma proporção.
Um evento, dado ou informação
numa dimensão primitiva, em março de 2020 divulgada no sertão da ciência subordinada
a todo tipo fundamentalismo ideológico é usado para comparar com uma avaliação sofisticada,
complexa e multifacetada produzida em laboratórios teóricos submetidos a todos
rigores metodológicos. Faz-se um recorte, pode ser um post bobo, para ‘julgar’
um relatório ou estudo envolvendo o estado-da-arte em pesquisa científica.
Pior, muitas vezes, aqueles ‘cientistas’ fundamentalistas usam a estrutura de
apresentação de métodos para fazer parecer crível. Assim, basta chamar de
científico um texto medíocre, simulacro de meta-análise, mas apenas colagem
ginasial de ideias desconexas, que é divulgado numa revista desqualificada,
para que ele pareça ganhar status para enfrentar teses elaboradas e amplamente testadas,
corroboradas ou não. As cavernas ululam e apupam a sombra que ilumina sua
miopia sistemática.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2021
BIDEN X trump: sobre planos e falácias
João Wagner Galuzio
Bolsonaro e Pazuello, vocês tinham até ontem, como referência, uma aberração que jamais leu um relatório de inteligência e, ou, reportes de estratégia internacional e bastante menos orientações científicas em geral e relativas à pandemia, em particular. Quase idiota, o primata chegou a sugerir a injeção intravenosa de desinfetantes, para 'curar' a doença. Diante do olhar estupefato dos que assistiam a cena, ratificou, "É sério, precisa ser estudado!"
Disse por diversas vezes que tudo estava sob controle e que logo iria desaparecer como milagre. No final da sua campanha para se reeleger, gesticulava freneticamente movimentando a mão aberta de cima para baixo como se estivesse cortando algo, para indicar que tudo seria encerrado rapidamente. Nunca apresentou uma ação ou critério, objetivos, que justificassem suas afirmações. Tudo se resumia a predicados tão retumbantes quanto prepotentes, sobre qualquer tema, encerrava: terrific, tremendous, superb, fantastic, excellent, gorgeous etc. Fato zero, fake 100.
Desde ontem, "inauguration day" um novo presidente se instalou na Casa Branca, e no dia seguinte de sua posse, apresentou agora para toda a nação, um arquivo em pdf que pode ser baixado no site https://whitehouse.gov um Plano Estratégico (200 páginas) com os 7 objetivos a serem enfrentados, a saber:
Meta 1: Restaurar a confiança do povo americano;
Meta 2: Montar uma campanha de vacinação segura, eficaz e abrangente;
Meta 3: Mitigar a propagação expandindo o mascaramento, testes, tratamento, dados, força de trabalho e padrões claros de saúde pública.
Meta 4: Expandir imediatamente o alívio de emergência e exercer a Defesa Lei de Produção.
Meta 5: Reabrir escolas, empresas e viagens com segurança, enquanto protege os trabalhadores.
Meta 6: Proteger aqueles que estão em maior risco e promover a equidade, inclusive racial, linhas étnicas e rurais / urbanas.
Meta 7: Restaurar a liderança dos EUA globalmente e criar uma melhor preparação para ameaças futuras.
Note-se que no melhor estilo de gestão organizacional em alto nível, a última meta é, ao mesmo tempo, uma eventual primeira meta para potencial e provável crise futura.
Então Srs. Jair e Eduardo, quando no futuro quiserem dizer de algo parecido com um plano.... considerem o Sr. Biden como referência e esqueçam aquela ameba laranja.
Ficar dizendo que há um plano e, muito pior, dizer que o plano foi lançado sem que ninguém tivesse tido o mais tênue vislumbre do que fosse isso, com indicações risíveis como: "Vai começar no dia D, na hora H" é piada de muito mau gosto. Essa afirmação só encontra comparação na máxima da 'presidenta': "Nós não temos uma meta, mas quando alcançarmos a meta, vamos dobrar a meta."
Também não é divertido esse diversionismo de lançar balões de ensaio para confundir a nação, diante de vossa inação. Não são as forças armadas que determinam se prevalece a ditadura ou a democracia ou, a suma bravata de seu procurador geral travestido de advogado criminalista, ensaiando sobre a antessala do estado de defesa.
Em vez de factoides, considere a hipótese de trabalhar, tenho certeza de que encontrará funcionários de carreira capazes de elaborar um rascunho responsável e pragmático para, minimamente, os orientar e, quem sabe, tenham coragem e competência para seguir e compartilhar com todos.
Decisão do STF sobre MP 926 de 2020.
João Wagner Galuzio
STF reconhece competência concorrente de
estados, DF, municípios e União no combate à Covid-19.
Para todos ingênuos inocentes
uteis que repercutem uma imagem (Figura 1) de uma nota boçal de um blog afetado
que sugere, como argumento, que o STF teria proibido alguma coisa ao senhor
tenente, reformado capitão, eleito presidente. Seguem algumas considerações para
todos nós que reconhecemos a inoperância, relativa em alguns casos e a incúria
em muitos outros, do executivo federal.
Figura 1 - Relativamente a isolamento e quarentena.
Não sou advogado, mas é necessário o entendimento mínimo do vocabulário jurídico. Analisar a decisão com a interpretação de texto própria de um leigo poderá resultar confusão.
Da decisão do STF.
As
disposições [na MP 926/2020] não afastam a competência concorrente nem a tomada
de providências normativas e administrativas pelos estados, pelo Distrito
Federal e pelos municípios.
"Para
deixar claro que a União pode legislar
sobre o tema, mas que o exercício desta competência deve sempre RESGUARDAR a autonomia dos demais entes." Deste
modo, o governo federal pode (muito, não proíbe nada), mas deve respeitar
as competências dos outros entes, em particular as questões sanitárias de cada
local.
O
governo federal pretendia concentrar
exclusivamente todo o poder de polícia sanitária [quando quis] interferir
no regime de cooperação entre os entes federativos, pois confiava
(exclusivamente) à União as prerrogativas de isolamento, quarentena, interdição
de locomoção, de serviços públicos e atividades essenciais e de circulação.
A
decisão do STF trata apenas dessa polícia sanitária (de novo, isolamento,
interdição de locomoção, de serviços públicos e atividades essenciais e de
circulação). Não trata e, portanto, NÃO
PROÍBE o Governo Federal de exercer suas atribuições de gestão, coordenação
e execução de planos, orçamentos para enfrentamento da pandemia.
Tanto
não proíbe nada que o governo:
1.
Decidiu
criar um comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da
Covid-19, coordenado pela Casa Civil (surpreende que não pelo ministério da
Saúde);
2.
Decidiu e
forneceu equipamentos necessários como ventiladores, leitos de UTI e testes e outros
(sem controle houve denuncias e inquéritos de superfaturamento);
3.
Decidiu
e
patrocinou o auxílio emergencial para milhões (sem controle houve muitas fraudes)
e políticos, empresários e até funcionários públicos teriam se beneficiado;
4.
Decidiu prescrever
tratamento precoce quando já havia consenso sobre a sua ineficácia;
5.
Decidiu desqualificar
as orientações médico-científicas sobre distanciamento, higiene e uso de
máscaras (tema tratado pelo STF);
6.
Decidiu
sabotar
ações dos outros entes da federação patrocinando aglomerações em manifestações
irresponsáveis (desobediência civil);
7.
Decidiu
contratar
e fazer produzir milhões de comprimidos de cloroquina (improbidade);
8.
Decidiu
por
ignorar, adiar ou retardar a logística de aquisição de insumos (agulhas e
seringas) sabidamente necessários desde julho de 2020;
9.
Decidiu
não
entender e não atender (em julho 2020) representantes de laboratórios
fabricantes de vacina enquanto o mundo já reservava várias opções em prazos e
quantidades (criando dificuldades para talvez ‘vender’ alguma facilidade);
10. Decidiu constranger
a Secretaria de Saúde de Manaus, em 11 de janeiro 2021, fornecendo 120 mil
comprimidos de cloroquina para que, em visitas do ministro às UBS de Manaus, fosse
“difundido e adotado o tratamento
precoce exigindo o uso quando, por outro lado, já era sabido o desabastecimento de oxigênio; O ofício, prova
substancial de crime de responsabilidade, ressalta “a comprovação científica” da medicação, “tornando dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da
situação de saúde em Manaus a não adoção
da referida orientação.” Simplificando, o ministro não foi a Manaus para
planejar nada, mas apenas para aplicar o golpe do falso tratamento precoce que,
uma semana depois, negou peremptoriamente jamais haver sugerido (Figura 2) - Ofício
nº 5/2021/SGTES/GAB/SGTES/MS;
Figura 2 - Tratamento precoce MS
11. Decidiu não
fazer convênio que depois virou protocolo de intenção, para depois mentir (SQN)
que todo o dinheiro da CoronaVac (a
tantas vezes maldita pelo tenente) tinha
tido origem no MS para, depois de não
apresentar evidência de pagamento, declarar que o valor será pago a posteriori quando a totalidade das 100 milhões
de doses, forem entregues mediante emissão de nota fiscal do Instituto Butantan
ao Ministério da Saúde".
12. Decidiu muito,
demais, exageradamente tarde, "quase" considerar a urgência das
vacinas e começou a tratar do assunto como uma adolescente deslumbrada.
Escrevendo uma 'cartinha' fofa ao primeiro ministro indiano, quando três meses
antes havia prejudicado severamente os interesses daquele país. “Vacinas vão
chegar em poucos dias” dizia ao fazer o pagamento antecipado (Figura 3) de um
contrato que deixa explícito "prazo
de entrega em ATÉ 90 dias;"
Figura 3 - Prazo de entrega 90 dias.
13. Decidiu "lançar"
o muito desconexo porque desconhecido, anacrônico porque tardio e
inviável por não indicar ao menos o início do 'Plano Nacional de Imunização' da
Covid19, sem data nem hora;
Essas
são algumas das decisões acertadas e outras não, deste Governo Federal QUE PRETENDEU PROIBIR
Estados, municípios e DF de conduzir ações de polícia sanitária como a adoção
de etiqueta de higiene, o uso de máscaras, isolamento e quarentena, mas sob
esse pretexto, eximiu-se de quaisquer irresponsabilidades suas. Como três em
cada quatro adultos brasileiros têm relativo analfabetismo funcional e não
entendem o básico do que estão lendo, se não apenas o ululante, muito menos
entendem fundamentos de juridiquês. Limitação suficiente para que interpretem
como seus mentores inúteis lhes adestram.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
Carros e estádios ou processadores e vacinas?
quarta-feira, 13 de janeiro de 2021
COVID 19 - Coronavac 2020 - URGENTE
João Wagner Galuzio
Agora em 12 de janeiro de 2021, soubemos, oficialmente, que a eficácia global da vacina desenvolvida pela Sinovac em parceria com o Instituto Butantan no Brasil e mais outros experimentos na Turquia e Indonésia, obteve como resultado de eficácia global 50,38%.
O meu grifo em “oficialmente” se justifica por
sabermos, desde meados de dezembro, que esses eram os números, não houve novidade
ou ineditismo[1].
De fato, esse anúncio só foi adiado em virtude dos resultados diferentes
obtidos na Turquia que apontou 91,25% de eficácia para a mesma vacina. Essa
variação tão grande fez o laboratório Sinovac solicitar prazo adicional para
verificar e, retificar ou ratificar os números, eles finalmente ratificaram os
números do nosso Instituto Butantan.
Só isso, para
mim, já seria suficiente para atestar a coerência e confiabilidade dos
protocolos adotados pelo nosso instituto. Escândalo talvez pudesse se instalar
onde o resultado foi muito superior, afinal, os noventa e um por cento se
confirmaram ou não?
Duas hipóteses principais
remanescem: A) Os resultados são diferentes mesmo, em boa parte em virtude do
perfil dos voluntários que participaram dos estudos ou; B) Talvez os resultados
por lá que devessem ser auditados, sem entrar no mérito de eventual influência
política do autoritário poder central que ali prevalece.
Nem vou me
estender com o presidente-tenente-jacaré, certo que estou de que sua fingida
ignorância atende a um único objetivo, manter o adestramento de seus
lagartinhos. Imputável, ele será devidamente responsabilizado pela história
como desqualificado que é para assumir responsabilidades à altura de seu cargo.
Por outro lado,
me aborreço com a manipulação frouxa da comunicação trouxa que fez uso
marqueteiro da ciência séria. Tivéssemos realizado os resultados naquele
momento e formalizado desde lá o uso emergencial, poderíamos estar sendo
vacinados desde o natal passado mantendo-nos como referência mundial de
imunização. Não faltava urgência e nos sobrava experiência para iniciarmos a
vacinação.
O que dizer de
políticos e eleitores ingênuos que “celebram” o suicídio de um voluntário durante
a fase de testes e fazem estardalhaço com estatísticas que não entendem? Não
somassem mais de 200 mil fatalidades seriam apenas anedota, como os números são
implacáveis, excederam todas as quotas. Esse jacaré é coerente ao menos na sandice,
assim como faz sua cruel e indefensável apologia à tortura, espreme os números
até que confessem o que lhe convém, assim como ele quer entender.
50 ou, 78 ou,
90% não são expressões de uma competição, mas os parâmetros necessários para se
definir estratégias para se implementar um Plano Nacional de Imunização – PNI,
o dia D da hora H, ficou em 2020 e ninguém percebeu.
terça-feira, 12 de janeiro de 2021
2024: Liz Cheney x Kamala Harris
A carta do compadre nhô Jair.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2021
Vai-se ford (minúsculo deliberado).
Vai-se ford (minúsculo
deliberado).
João Wagner Galuzio
Hoje, 11 de janeiro de 2021,
a empresa Ford apresentou formalmente, ao mercado, fato relevante indicando o
encerramento de todas as suas atividades produtivas no Brasil, desde já,
mantendo apenas a sede administrativa para a América do Sul, seu centro
tecnológico e declarou garantia de fornecimento de peças para os seus veículos.
A produção será mantida e concentrada na Argentina, no Uruguai e em outros
locais.
Eu entendo que seja uma
decisão que irá causar muito grave e dramático impacto na vida de dezenas de
milhares de funcionários diretos e indiretos, será também um ambiente nervoso
para os proprietários de seus veículos que provavelmente perceberão uma rápida
depreciação no valor de seus veículos usados ou seminovos. Além destas consequências
importantes, no entanto, tenho algumas considerações...
1ª) Nestes 100 anos de
Brasil, a Ford fez parte de um oligopólio onde contavam apenas uns poucos
players: Volkswagen, GM, Ford e, mais recentemente a FIAT a partir dos anos
1970. Período quando esse clube mandou e desmandou, como lhes aprouve, abusando
de subsídios, financiamentos e facilidades como, por exemplo, o Draw Back. Esse
mecanismo cambial permitiu que aquelas empresas enviassem para cá a sucata de
suas plantas de veículos descontinuados em seus países de origem em condições
bem vantajosas. Por décadas remeteram lucros extraordinários em detrimento do
parque industrial nacional.
2ª) Com a modernização
consequente aumento da competitividade do setor no mundo todo e, em particular
no Brasil, com a chegada de várias outras montadoras da Europa e da Ásia, a
gestão do negócio no Brasil ficou cada vez mais complexo, ainda mais e especialmente
considerando a instabilidade que é essa palhaçada que virou o Mercosul;
3ª) A hegemonia da indústria automotiva
norte-americana veio se deteriorando em função da competitividade e inovação
tecnológica e comercial internacional e, depois de 2008, quando a empresa se
viu em maus lençóis e quase faliu naquela crise do subprime. Apenas não soçobrou
por conta da intervenção salvadora do governo americano;
4ª) Uma de suas maiores concessionárias, se não a
maior parceira, vem concentrando sua estratégia no desenvolvimento da marca
Chery... criando e instalação o parque fabril da CAOA/Chery com carros interessantes
e competitivos;
5ª) A FORD irá continuar com
a administração e a área de desenvolvimento de novos produtos; A nota informa
que os veículos FORD continuarão sendo oferecidos, aqueles produzidos na Argentina
e no Uruguai e em outras praças;
6ª) Talvez seja oportuno
lembrar que a Ford já vinha sem rumo no Brasil desde o início dos anos 1980 e
que, depois, conseguiu uma sobrevida com a Autolatina, num acordo que se não
estou enganado foi mais favorável para a empresa americana e menos para a
empresa alemã.
7ª) Me parece ainda mais
preocupante a recém anunciada fusão entre a FIAT e o grupo mantenedor das
marcas PEUGEOT e CITROEN. Não me surpreenderá que esta fusão vá impor uma nova
reestruturação global mais severa com repercussões por aqui, envolvendo mais
fábricas, modelos e funcionários.
Outras duas possibilidades
ainda podem decorrer... uma saudável e outra mais grave... a saudável... a Ford
já estaria iniciando negociações para outras montadoras assumirem suas fábricas
e parte dos funcionários. A pior notícia é que, com a Covid-19, outras
montadoras possam estar avaliando suas estratégias.
Por último eu lamento,
pessoalmente, que não tenhamos um Ministro das Relações Exteriores bem
preparado e orientado para negócios internacionais. Decisões dessa natureza
como a que a FORD tomou estão sendo engendradas a meses. Não é improvável que,
enquanto o senhor Ernesto ficou fazendo beicinho para o eleito presidente americano,
Joe Biden de um lado e, brincando de malmequer com a tecnologia 5G chinesa, que
hoje já representa mais de 40% da infraestrutura brasileira de comunicação 4G,
simultaneamente e pelas costas do governo brasileiro, a FORD estivesse em
tratativas adiantadas com os nossos adversários do MERCOSUL.
Não me surpreenderia que o
próprio Donald, antes de sua insurreição, tivesse privilegiado seu real amigo
pessoal, o ex-presidente argentino Mauricio Macri. Não é improvável que, na
conta do americano presidente pato manco e empresário desleal, tenha pesado o
cálculo de seus prováveis negócios (campos de golfe e resorts) no território de
nossos, mais uma vez, adversários do MERCOSUL
Como
assim adversários do MERCOSUL?
Alguém tem que dizer para a
Argentina, e isto vem desde o governo FHC inclusive, que um bloco econômico não
é bloco hegemônico. Caramba, para não dizer obscenidades, toda vez é isso, a
Argentina só leva vantagem. Humildade e reciprocidade dos ‘hermanos’, condições
que são indispensáveis para qualquer casamento, relacionamento ou parceira é ZERO.
Fordê, vai lá e fala para Argentina comprar os carros que ela produzir.
Produzir lá e vender aqui é fácil,
seus carros não vão fazer falta nenhuma entre as inúmeras opções que temos por
aqui. Quer vender aqui? Mantenha os empregos e instalações aqui, ou precisamos
desenhar? Mais uma vez, querem produzir na Argentina para vender aqui? Não
mesmo, na na ni na... tchau, vai-se ford (sic).
Esculachando Descartes e ensopando Lavoisier.
João
Wagner Galuzio
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U |
ma
das mentes mais prodigiosas da história da humanidade, Descartes nos proporcionou
um legado incrível, o método. O pensar para o saber, esta qualidade tão fértil nunca mais
foi a mesma depois dele, se pouco ou muito afetada por suas ideias.
Método
é uma característica inexorável da natureza, em todo o universo, que desenvolve
e segue padrões desde sempre. O homo sapiens, observador, cada vez mais foi
entendendo essa dinâmica. Primeiro observando as estações, o sol, a lua, as
estrelas e todas as criaturas, percebeu que tudo tem sentido e direção, tudo se
sucede e constante evolução.
Renato
Descartes reconheceu a importância do método como alavanca do conhecimento
humano, não uma muleta e, jamais, o limite do nosso saber. Com a licença da
redundância, os métodos podem representar as estratégias mais ou menos
conscientes, mais ou menos elaboradas para se acelerar o nosso processo
evolutivo civilizatório. Renato sonhou uma ciência maiúscula e ideal, capaz
entender todos os fatos e eventos. Um sonho que, apesar de etéreo e lírico,
iluminou o modo muito objetivo do aprender conhecer.
Outra
mente gigante, Lavoisier, compreendendo aquelas leis (ou métodos) da natureza ‘lacrou’:
“Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma” ou, como as
tribos mais antigas na África já decretavam: “hatuna matata” ou, para dizer ‘sem
problema’, pois no final resta o equilíbrio, o padrão prevalece, o ciclo se
completa.
Em
seu discurso do método, por princípio, Descartes observa que o nosso jeito de
ser gente é muito sabido mas também pouco sábio. Todos nós temos a convicção de
sermos donos do bom senso e pensamos que somos todos donos das nossas certezas
e verdades. Na internet, os algoritmos, inocentes, levam a culpa e são
criticados como responsáveis pela nossa idiotização quando, na verdade, repetem
apenas os modelos operacionais de nossa inteligência cada vez mais fracional em
benefício da inteligência artificial. Esse desperdício da nossa inteligência
facilita e concentra ainda mais a nossa necessidade insaciável de dogmas e
paradigmas.
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A |
certeza é um tesão e a sua compulsão, um
conjunto de múltiplos de prazeres intelectuais.
É sério! Elegante, o nosso amigo Descartes jamais seria assim literal
como eu, mas em essência estou apenas parafraseando. Portanto, o problema da
nossa era das incertezas, como diria Galbraith, não é a inteligência ser cada
vez mais artificial, mas o artifício da ignorância que usamos como subterfúgio para
o nosso delicioso e sedutor reducionismo lacrador.
Esta
redução não ocorre apenas, como é mais evidente, no âmbito da coisa política ou
das ciências em geral, mas é muito mais abrangente no nosso cotidiano familiar,
no trabalho e nas relações comerciais. Maltratamos nossos gigantes quando
generalizamos e banalizamos nossos relacionamentos. Trucidamos o legado deles
quando distorcemos dados e resultados, relatórios e balanços para realizar
lucros que escondem malfeitos onde ou pouco se perde ou pouco se ganha, mas no
fim tudo se transforma, em bônus.
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P |
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último e talvez mais grave, desprezamos a indispensável consciência da
complexidade humana e, ao mesmo tempo, a unicidade das coisas vivas ou não, das
coisas importantes ou irrelevantes, ou não e, para ‘caetanear’ ainda um pouco
mais negamos o que não é espelho. Negamos a nossa própria inteligência quando
nem sequer percebemos o estado das coisas e muito menos ainda, quando odiamos a
perspectiva do diferente.
A vaidade
da inteligência do nosso supremo bom senso, tudo solapa, numa sopa creme de ideias
rasas, frases prontas, memes maliciosos, slogans hilários, julgamentos
sarcásticos e adjetivos cruéis que tem a eficácia de negar Lavoisier e transforma
tudo em nada.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2021
Voto impresso – O voto cabresto.
João W. Galuzio
Há um importante e sagrado fundamento
constitucional que preconiza a mais total liberdade de opinião política, a
inviolabilidade do voto. É um exercício inalienável de consciência cidadã que
não pode e não deve jamais ser devassado.
Um cidadão não pode ser constrangido
a dar satisfação, a quem quer que seja, sobre sua opção política. É um segredo
tão inviolável que nem um terapeuta, um padre confessor ou marido controlador, podem sonhar acessar.
Para nós cidadãos leigos, que não conhecemos os meandros jurídicos que balizam
este instituto, sabemos isso na prática, quando somos impedidos de fazer
registro fotográfico de nosso sufrágio individual.
Toscas teorias paranoicas querem
fazer mentes foscas crerem que o voto eletrônico não seria seguro e, para
parecerem sérios esses teóricos, ou terroristas, apresentam aqui e ali depoimentos de ‘técnicos’ que teriam
tido sucesso na invasão das urnas eletrônicas. Não há confirmação metodológica, de modo efetivo, que permitisse uma denúncia formal que levasse a cabo uma
investigação pelo STF que comprovasse tais argumentos.
Curioso que todo político diplomado
teve sua posse garantida pelo mesmo sistema que alguns deles querem
desacreditar. Então, a quem interessa esse controle externo ao sistema? Muito
mais àqueles que pretendem se eternizar no poder, criando e mantendo os seus
currais eleitorais, sejam os antigos e mal ditos ‘coronéis’ em suas sesmarias e
outros os cangaceiros das cidades grandes como milicianos, ‘donos’ de
comunidades e de movimentos sociais, além de traficantes de influência, de pessoas
e de todas as drogas.
Os votos impressos, nestes casos,
servirão de moeda de troca de favores para uns e tábua de salvação para outros,
para não serem desprezados os primeiros ou massacrados aqueles outros, onde
quase sobrevivem e o estado e as instituições democráticas não alcançam. Esse
voto, cabresto, atende exclusivamente aos poderosos das vilas, das favelas, dos
jardins ou das universidades, públicas e privadas. O cabresto não escolhe
condição social ou intelectual. Uma vez vulnerável, da chibata não escapa o abestado.
A pretexto de transparência e
segurança, sua aprovação irá promover a transferência e a governança desse
único e extraordinário poder para quem é opressor. O voto secreto nos fortalece
e nos faz todos iguais. Se não, de outro lado, o voto impresso será ‘exigido’ nos sertões, nas comunidades e nas cidades, mais ou menos frágeis. Representará o
solapamento dessa pedra fundamental do nosso edifício constitucional.
terça-feira, 5 de janeiro de 2021
Nação sem noção.
João W.
Galuzio
O paradoxo da
comunicação e a contaminação do ‘não senso’ são dois elementos complementares
na vitória da ignorância sobre a ciência e a consciência. Em toda evolução
humana a comunicação foi motor e combustível de grandes processos de aceleração
em nossa jornada. Motor quando estimula novas intervenções e formas de
manifestação e, combustível quanto mais conteúdo produz e cada vez mais e
melhor são gravados novos registros, de geração em geração. Se aqueles momentos
eram os primeiros tempos de nossa história registrada, hoje talvez estejamos
vislumbrando os últimos termos como escória do que poderíamos ter realizado.
O paradoxo está evidente
na relação entre o extraordinário ‘arsenal de ferramentas tecnológicas’ de
comunicação e a flagrante dizimação do diálogo como fator básico do
desenvolvimento humano. A facilidade da impressão superficial e descartável
parece prevalecer sobre a expressão do que essencial e sustentável. Blogs, sites e chats cativam e engessam opiniões
baseadas em pedaços, ou edições dos fatos, para atender a interesses submersos
e subterrâneos, estimulando um círculo tão vicioso como delicioso da nossa zona
de conforto mais primitiva e não, não restam inocentes à esquerda ou à direita
em suas utopias esquizofrênicas.
Os que pretendem
patrocinar um debate são vítimas de um ataque pelas laterais dos insanos radicais.
Como o argumento desses é apenas a repetição e a repercussão de memes com humor
e slogans perversos que desqualificam, por princípio, qualquer outro que ‘pense’
diferente, afinal quem pensa, incomoda. Os que pensam e não caem nessa
armadilha neurótica ou dramática são tratados ou como “isentões” pela direita ou
como “neutros” pela esquerda, nos dois casos de modo muito pejorativo.
Este massacre é parte
do outro elemento complementar, a contaminação da ignorância, a truculência do ‘não
senso’ como estratégia de convencimento, é a síntese do não penso, logo resisto a quaisquer dados ou informações que constranja
além do horizonte plácido e flácido. Excitado por inputs hipnóticos, que têm a
eficácia do reforço positivo, o cérebro em êxtase, elabora sinapses reducionistas
que são lambuzadas de dopamina. O delírio é avassalador.
Embriagado por
incontáveis estímulos em textos e fotos, ou numa ordem gigante de outros sinais
que, cada um deles, ao seu tempo vai sedimentando e embaçando a razão de toda
gente boa, tornando o indivíduo dependente químico de todo mensageiro cínico,
político por indecência. Esse processo bate-estaca tem o poder de higienizar a
mente livre e conturbada, lavando seu cérebro de ‘sujeiras’ como o livre arbítrio
e pensamento crítico.
Uma alternativa
para se enfrentar essa overdose passa pela abstinência dessas drogas, em silêncio,
de mente e espírito. O silêncio não é ausência de comunicação, mas um ambiente
adequado para, com a mente calma e serena processar as informações e permitir
uma reflexão mínima e ponderada. Sem reflexão as pessoas creem que suas
certezas são fruto de sua própria inteligência quando são, mais provavelmente,
lesões causadas pelo linchamento mental, moral e emocional a que foram subordinadas.
Nesses neurônios
alucinados estabelece-se o distanciamento intelectual, que afasta as mentes,
outrora brilhantes e suas ideias e as converte em sombras de ideais confusos ou
equivocados. Isolados, mentalmente falando, vamos nos afastando uns dos outros,
perdendo a indispensável consciência do tecido social diverso e complexo, até
perder o senso de nação ou, se não, vamos nos aglomerando como claque enclausurada,
até ruir feito uma nação sem noção, babel de algoritmos. Para quem possa me
achar rabugento este foi o cenário mais otimista que pude imaginar, estou
velho. Sábio ou sabido?



